São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 1994
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Seleção começa a viver aventura da Copa

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Hoje a seleção começa a viver a grande aventura da Copa. Paira no ar um otimismo desconfiado, como um ritual desprovido de fé. Cada um de nós tem consciência de que, se há algo que pode dar certo neste país, é o futebol, personificado na seleção nacional. Já deu certo. Afinal, fomos três vezes campeões do mundo. A esperança, pois, não é uma crença desprovida de lógica.
Além do mais, se dermos uma espiada na janela do mundo, como gostaria Ernesto Geisel, veremos nossos filhos varonís ganhando as lutas. Raí, Ricardo Gomes e Valdo sagraram-se campeões franceses; Romário foi a estrela mais cintilante do Barcelona de Cruyff, campeão espanhol pela quarta vez consecutiva, com Bebeto e Mauro Silva, vices. Mozer levantou a taça lusíada e luzidia, enquanto Jorginho era celebrado em todas as cervejarias de Munique, depois do título alemão conquistado pelo seu Bayern.
Isso sem falarmos no tricolor bicampeão do mundo, subjugando Milan e Barcelona, duas máquinas azeitadíssimas, dois refinados colecionadores de títulos.
Por fim, há muito tempo não dispunhamos de tão grande contingente de craques como agora, a tal ponto de um Edílson, um serelepe capaz de perpetrar gols como o do último domingo, uma pintura, um Evair, artilheiro e melhor jogador do Campeonato Paulista, um César Sampaio, um Roberto Carlos e tantos outros, tiveram de ficar de fora da Copa.
Como duvidar de um futebol capaz de produzir esse menino Ronaldo, que, aos 17 anos, já fez mais gols do que Pelé na mesma idade? E que joga como gente grande: não só tem o faro do gol, mas também é capaz de fazer uma fieira dos adversários ou meter bolas para os companheiros que parecem guiadas por chips japoneses? Mas, a cada esquina, tropeço na mesma pergunta: você acha honestamente que desta vez dá?
Honestamente, nao sei. Talvez seja essa pontinha de dúvida que ficou encravada em alguma zona do meu cérebro desde o maldito dia em que, ainda adolescente, metí-me numa redação de jornal. Crer mesmo, de cabeça e coração, só em 62 e vinte anos depois, na Espanha, embora nesta segunda vez, na manhã do fatídico jogo de Sarriá, me assaltasse uma certeza fria e desoladora de que perderíamos para a Itália. Puro pressentimento, nada mais.
Lembro-me que, em 74, na Alemanha, à véspera do jogo contra a Holanda, mandei um artigo para o jornal em que trabalhava, assegurando que dançaríamos diante do carrossel. O editor de plantão, inconformado, pediu-me pelo telefone que retificasse o artigo. Afinal, o Brasil todo era uma festa de euforia. Respondi-lhe que se o Brasil jogasse dez vezes contra a Holanda, naquelas circunstâncias, perderia onze. E perdeu.
Talvez seja a certeza de que Parreira não colocará em campo a nata do nosso futebol. Temos problemas na defesa, com Ricardo Gomes, muito lento, e Branco, que parece ter perdido o vigor indispensável a um lateral moderno. Temos problemas no meio-campo, com Dunga e sua limitada ação ofensiva; com Zinho, excelente jogador, mas que não vai nem vem, e com Raí, que implodiu neste ano e meio. E pressinto um problema no ataque, composto por dois extraordinários atacantes que confessam não ter intimidade, apesar de jogarem juntos no Vasco e na seleção, durante muito tempo. Romário preferia Edmundo ao seu lado; Bebeto prefere Muller.

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