São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 1994 |
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Censura a filme impede presença de Yimou
AMIR LABAKI
Temendo represálias a seu novo filme, "Viver!", exibido ontem em competição, Yimou permaneceu em seu país negociando com as autoridades comunistas a liberação de sua obra. O diretor de "Amor e Sedução" enviou ao diretor do festival, Gilles Jacob, uma declaração lida durante uma entrevista coletiva na manhã de ontem. O texto diz: "Já que meu filme ainda não recebeu seu certificado de censura na China, sinto não poder comparecer. Estou orgulhoso de "Viver!" estar aí. Quero agradecer à organização de Cannes e a todos que me ajudaram a realizá-lo". A atriz e mulher do cineasta, Gong Li, participou da coletiva, mas evitou posicionamentos políticos. Até o último momento foi mantido suspense sobre a presença de Zhang Yimou. Seu nome foi incluído na programação diária de entrevistas coletivas. Como revelou a Folha, os problemas entre o cineasta e as autoridades chinesas começaram há cerca de duas semanas. A seleção oficial de "Viver!" para a competição em Cannes, antes da aprovação oficial do filme pelo departamento de censura chinês, desagradou ao governo. "Viver!" acompanha o impacto na vida de uma família das transformações políticas da China nos últimos 30 anos (leia texto ao lado). A restrição a filmes que tratem da história política recente chinesa se acentuou no último ano, depois da exibição em Cannes-93 de "Adeus Minha Concubina" de Chen Kaige. Como toda produção chinesa, "Viver!" teve seu roteiro oficialmente aprovado antes das filmagens. Filme pronto, teria havido uma advertência a Yimou de que a presença de "Viver!" em Cannes acarretaria seu veto para o mercado chinês. Ontem, o produtor Chiu Fusheng afirmou que "Yimou preferiu não vir a Cannes para se comunicar com as autoridades". Oficialmente, "Viver!" ainda aguarda o veredito da censura. Não está vetado. Tampouco liberado. O processo de exame pode se estender. Nada que surpreenda quem lembre do Brasil sob o regime militar. Nada que assuste o experiente Yimou. " `A História de Qiu Ju' e `Lanternas Vermelhas' foram inicialmente censurados e tive que esperar três anos para que eles passassem", lembrou o cineasta em entrevista na "Première" especial de Cannes-94. "O governo chinês me critica tão constantemente que, quando ganho prêmios em festivais internacionais, isso não é considerado como uma honra para mim, mas, sim, como desonra para meu país." Melhor síntese para o atual escândalo, impossível. O crítico AMIR LABAKI está em Cannes a convite da organização do festival Texto Anterior: Lewis Hine registra dor e glória do trabalho Próximo Texto: Hal Hartley confessa influência de Godard Índice |
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