São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Suicídio

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Já virou lugar-comum bater no Congresso. Assim como já virou lugar-comum os parlamentares se defenderem acusando a imprensa de fazer campanha contra.
Não sei se há campanha ou não, mas o comportamento do atual Congresso é indefensável. Se existe tal campanha, deve ter sido concebida dentro do próprio Congresso.
Os casos dos deputados Ricardo Fiuza e João de Deus, ambos acusados pela CPI do Orçamento, são ilustrativos do que se pode caracterizar como comportamento irresponsável.
Não vou entrar no mérito de se eram culpados ou inocentes. O ponto é que cabia à Câmara julgá-los. E ela, mais uma vez, se omitiu.
Os dois foram absolvidos não porque os deputados federais foram convencidos de que eram inocentes, mas porque não houve deputados suficientes para cassar os dois.
Por não haver quórum, os dois foram absolvidos. Assim como, por não haver quórum, a medida provisória que cria a URV vem sendo postergada.
Por não haver quórum, as bancadas corporativas que se organizam às margens dos partidos (como a ruralista) fazem o que querem. Por não haver quórum, a revisão constitucional naufraga.
Os deputados não são contra, nem a favor. Pelo contrário. Não têm opinião, são omissos, não votam. E não há democracia estável com um Legislativo omisso desta maneira. A cassação de Ibsen Pinheiro, ontem, é uma excessão que confirma a regra.
Pesquisa Datafollha divulgada ontem expõe o desgaste do Congresso: 47% dos brasileiros acham seu desempenho ruim ou péssimo, contra apenas 12% que o consideram ótimo ou bom. É a pior avaliação entre os três Poderes.
Não sei se há ou não campanha contra o Congresso. Se há, é desnecessária.
*
O ex-presidente José Sarney desistiu momentaneamente de disputar a Presidência da República.
Uma reunião na noite de anteontem com parlamentares do PMDB mostrou que está isolado no partido e teria pouquíssimo apoio domingo na convenção.
Na tarde de ontem, Sarney já não contava com a hipótese de sair por um pequeno partido.

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