São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Vá à Gringolândia e proteja-se das balas

DAVID DREW ZINGG
ESPECIAL PARA A FOLHA

Minha primeira impressão da Gringolândia era (e continua) a de um país lotado de alucinados maníacos homicidas tentando roubar algo de mim ou me matar na tentativa. Meu analista, porém, me disse que não era meu Rolex que eles queriam, mas minha alma.
Portanto, fique esperto Joãozinho. Só porque vão hospedar o Mundial não quer dizer que os nativos vão tratá-lo com as maneiras de um lorde inglês. Se eles puderem tirar a sua alma, eles o farão levando o seu Rolex de troco.
Pense, porém, nas vantagens: se você trouxer o seu peso em ouro, poderá ver o time de Sambalândia jogar em San Francisco e Detroit, Dallas e Los Angeles, e até Boston, Nova Jersey e Chicago.
Primeiro, um lembrança sobre o que vestir. Tenho à minha frente um recorte do "New York Daly News". A manchete diz tudo que você precisa saber sobre a moda de verão: "Colete à prova de balas é uma tendência em crescimento".
A única cidade onde esse aparato salva-vidas peso-leve não é necessário é San Francisco, o quartel-general do "flower power".
Para estar em sintonia com a cor local, vista-se como baiano e sempre ande em meio a uma delicada, e imensa, nuvem de fumaça azul.
Detroit é uma cidade que tem pouco a recomendá-la, a não ser a música da Motown, o restaurante The London Chop House e um homem de 250 quilos que não pode ser punido pela Justiça.
Ele disse ao juiz que é muito pobre para pagar multa, não pode fazer trabalho comunitário por ser muito gordo e não pode ir para a cadeia pois da última vez que por lá esteve foi estuprado.
Dallas é outra dessas cidades que conhecemos mais pela TV. Mas seus habitantes têm pouco em comum com JR. A maior parte deles frequenta escolas em Boston e tenta improvisar um sotaque à John Kennedy –para que os visitantes esqueçam o que aconteceu ao presidente na cidade.
Los Angeles é uma cidade que faz o brasileiro se sentir em casa. E não é só porque alguns fantásticos exemplos do gênio criativo de Sambalândia, como Sérgio Mendes e Bruno Barreto, moram lá.
Uma das mais reconfortantes descobertas é que lá as pessoas se tratam pelo prenome.
Boston, bem, essa é uma cidade séria. É lá que aquelas esquisitíssimas idéias dos gringos sobre democracia, lei e ordem começaram.
São grandes as chances do seu jantar ser preparado ou servido por um dos 100 mil brazucas ilegais que moram na cidade.
Uma dica importante sobre Boston é tentar qualquer coisa para entrar no clube privê Evon's.
O Evon's é cheio de saudáveis, jovens, ricas e louras Jennifers que durante o dia estudam em Harvard e durante a noite estudam matérias mais interessantes no Evon's.
Nova Jersey, Joãozinho, é o local de alguns dos últimos jogos da Copa, e não Nova York.
Se você se perder no caminho de volta para Manhattan, procure por um bar em Hobokan, a cidade natal de Frank Sinatra.
Chicago é a primeira cidade do resto dos EUA. Uma bela grande cidade, que nunca teve o glamour da Los Angeles ou o jeito nova-iorquino de ser de Nova York.
A cidade, porém, tem seus atrativos. Ela ainda é assombrada pelo fantasma do grande Al Capone. Foi lá que se inventou a "house music" (para dançar).
Se você for com seu carro à casa funerária Gatling's, poderá participar da visita "drive through", onde se podem conferir em vídeo os rostos de alguns cidadãos de Chicago mortos recentemente.

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