São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 1994
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Venezuela, em crise, tem capital militarizada

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A prisão do ex-presidente Carlos Andrés Pérez tem como pano de fundo acontecimentos que parecem colocar outra vez a Venezuela à beira do abismo.
Protesto contra aumento das passagens de ônibus, quando Rafael Caldera comemorava os seus primeiros cem dias de governo, levou a manifestações populares de extrema violência em Caracas, a capital, e outras seis partes do país, com três mortos.
Caracas foi militarizada, houve roubo de armas em quartéis, explosões de bombas, e jovens entrincheirados na universidade receberam a Guarda Nacional a bala.
O octogenário Caldera desfez boatos sobre sua morte aparecendo em fotos e na TV num jogo de cartas num quartel.
O ministro da Defesa, general Rafael Montero, denunciou propósitos de anarquia e até guerra civil, sem dizer de quem, mas avisando que as Forças Armadas manterão a ordem "de qualquer jeito".
Um dos alvos é o coronel Hugo Chávez, dirigente do Movimento Revolucionário Bolivariano e cabeça de duas tentativas de golpe, perdoado por Caldera.
Duas semanas depois de deixar a prisão Chávez declarou que haverá golpes e possivelmente guerra civil, "caso não haja grandes transformações".
Chávez não se interessa por golpismos "tradicionais", segundo informou, não está à esquerda ou à direita, mas "ao lado do povo", e garantiu ter apoio "em todos os níveis das Forças Armadas".
Além de prender Andrés Pérez, a Corte Suprema decidiu processar também por corrupção outro ex-presidente, Jaime Lusinchi, talvez querendo contribuir para acalmar as ruas.
Caldera, eleito com votos de protesto contra o establishment político, ainda mantém bons índices de popularidade.
Mas a grande maioria dos venezuelanos quer o fechamento sumário do Congresso empossado há pouco mais de três meses.

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