São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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`Herança do tráfico' no país vale US$ 10 mi

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI

Da Reportagem LocalO Brasil perdeu, nos últimos dez anos, aproximadamente US$ 10 milhões, por não ter leiloado bens apreendidos de traficantes. Caso essa herança do tráfico tivesse ido a leilão, a soma arrecadada seria suficiente para comprar 1,3 mil automóveis Corsa.
Para reverter esse quadro, a Secretaria Nacional de Entorpecentes iniciou uma série de leilões, em todo o país. Em 94, martelos já foram batidos em Brasília, Roraima, Mato Grosso e Rio de Janeiro.
Em junho, irão a leilão em São Paulo 3.000 bens, incluindo 85 automóveis em poder da Polícia Federal, outros 850 apreendidos pelo Denarc (Departamento Estadual de Narcóticos) e 16 aeronaves, confiscadas em todo o estado de São Paulo.
O leilão a ser realizado em São Paulo é considerado o maior já instituído pela União. "Temos certeza de que agora os bens confiscados dos traficantes não vão mais ficar apodrecendo. O Brasil perdia US$ 1 milhão por ano por não realizar esses leilões", diz Isaac Barreto Ribeiro, secretário nacional de Entorpecentes.
O perito Nelson Massini, notabilizado por ter esclarecido os casos Josef Mengele e Chico Mendes, foi nomeado responsável pelo levantamento, em todo o país, dos bens a serem confiscados pelo governo. Ele estima que, em todo o Brasil, ainda haja o equivalente a US$ 4 milhões a serem confiscados.
Massini anda de Estado em Estado em busca dos bens. Algumas histórias que encontrou refletem a inépcia no trato do patromônio a ser incorporado ao da União.
O caso mais sintomático é do navio Solana Star, barrado em 1987 no Rio de Janeiro. A apreensão ganhou as manchetes quando pescadores de todo o Brasil fisgaram em suas redes latas de maconha jogadas ao mar pelo barco.
O dinheiro da venda do Solana Star não obteve autorização presidencial para que fosse aplicado numa conta com juros de mercado. O que sobrou da embarcação foi um Chevette, incorporado ao patrimônio da Polícia Federal.
Há ainda alguns problemas burocráticos que Massini encontra no trabalho. Por exemplo, o Banco Central ainda não se posicionou sobre o que acontece com os cheques encontrados com os traficantes e anexados aos inquéritos policiais. Somas altíssimas ainda não podem ser resgatadas.
Nelson Massini chegou a encontrar um cofre fechado, que continha cerca de US$ 50 mil em dólares, cruzeiros e austrais. Para converter o dinheiro em patrimônio da União, está tentando vender as notas brasileiras e argentinas para colecionadores de cédulas.
Uma fortuna avaliada em pelo menos US$ 2 milhões está agora na mira de Massini.
O dinheiro era do traficante Gerson Palermo, considerado um dos maiores do país. Está detido na Penitenciária do Estado de são Paulo de onde fugiu, há dois anos, resgatado por um comando paramilitar, enquanto ia a tratamento dentário, fora do âmbito da cadeia.
Palermo tem casas, fazendas e veículos. Esses US$ 2 milhões só se referem à fortuna embolsada por Palermo no período em que fugiu da penitenciária.

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