São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Nutricionista acha `resistência' natural

MARIO MAGALHÃES; JOSIMAR MELO; SÉRGIO TORRES
DOS ENVIADOS A TERESÓPOLIS

A nutricionista da seleção brasileira, Patrícia Bertolucci, disse que já está acostumada a resistências ao seu trabalho.
Nesta entrevista, ela contou que foi paciente e persistente para implantar nos últimos dois anos o plano nutricional no clube em que trabalha, o São Paulo.
Ela critica o consumo de alimentos que a seleção levará para os Estados Unidos, como paio, carne-seca e toucinho.
Aos 28 anos, Patrícia rompe a tradição de os médicos e o cozinheiro da seleção serem os únicos a estudar o cardápio.
No São Paulo, aos poucos ela passou a controlar quase toda a alimentação dos jogadores. Constatou que o maior problema de muitos deles era treinar em jejum.
Em Teresópolis (RJ), ela não ficou hospedada no centro de treinamento da seleção, na Granja Comary. Mulheres são proibidas de dormir lá. Ficou num hotel.

Folha - Quem vai definir o cardápio dos jogadores na Copa?
Patrícia Bertolucci - Acredito que seja eu.
Folha - O técnico Carlos Alberto Parreira disse que você vai influenciar, mas que a decisão final será dos médicos, com o cozinheiro.
Patrícia - Não vou ficar frustrada se isso acontecer. Não tenho expectativa de mudar todo o cardápio e a alimentação do Mundial. Espero apenas acrescentar alguma coisa à comissão técnica.
Folha - Você já apresentou uma proposta de cardápio?
Patrícia - Ainda não. Comecei a trabalhar na quinta-feira. Falta definir que tipo de treino está programado para cada dia. Assim, saberei qual é a alimentação indicada.
Folha - O que você fez até agora?
Patrícia - Tive uma conversa de dez minutos com os jogadores radicados na Europa para conhecer seus hábitos alimentares.
Folha - No São Paulo você combateu o hábito dos atletas de treinarem de manhã em jejum. O que descobriu de ruim agora?
Patrícia - É impressionante como os "estrangeiros" se cuidam, mantêm alimentação saudável.
Folha - Mas no ano passado o meia Luís Henrique, preterido por Parreira para a Copa, se apresentou à seleção com oito quilos de excesso de peso por comer na França carne-seca importada do Brasil.
Patrícia - Mas agora não vi algo assim. Para poder indicar dietas específicas para cada um, aguardo o resultado de testes bioquímicos realizados no início da semana.
Folha - Você esperava as dificuldades que está encontrando na seleção?
Patrícia - Eu as considero naturais. A nutrição é uma ciência antiga, mas de aceitação recente. No São Paulo meu trabalho só foi aceito aos poucos.
Folha - Por que você é contra alimentos como paio, carne-seca e toucinho?
Patrícia - Principalmente porque eles são de difícil digestão. Alimentos de difícil digestão dificultam sua transformação em energia.
Folha - Mas você permite que os jogadores almocem carne vermelha em dias de jogos.
Patrícia - É para não alterar os hábitos alimentares deles de forma brusca. É melhor comer carne vermelha do que nada.
Folha - No Bayern de Munique, clube alemão, carnes vermelhas são vetadas em dias de jogos. Os atletas comem massas.
Patrícia - É o ideal. A carne vermelha é indigesta. Não é energética. Rouba energia do corpo para sua digestão.
Folha - Que tipo de alimento é mais importante para um atleta?
Patrícia - O carboidratos dão mais energia. Carboidratos são massas, pães, batatas. No mínimo a metade da dieta deve ser de carboidratos. Já aumentei sua quantidade no cardápio da seleção, diminuindo as gorduras.

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