São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994
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Caubói politicamente correto volta ao Brasil

ROGÉRIO DE CAMPOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O último grande herói do "western spaghetti" não foi obra do cinema, mas dos quadrinhos.
Sergio Leone já estava cansado e o gênero já estava nas últimas quando, em 1974, o roteirista Giancarlo Berardi e o desenhista Ivo Milazzo criaram Ken Parker, o mais politicamente correto dos caubóis.
A série chegou a ser publicada no Brasil em duas ocasiões. Agora, como prova de seu prestígio, volta em uma edição de luxo, colorida, da editora Ensaio.
Uma edição com capa cartonada e um prefácio do jornalista Marcos Faerman que cita Hegel e Paul Vandromme.
Ken Parker foi a realização do sonho secreto de muitos diretores de cinema popular italiano: um faroeste que fez mais sucesso de crítica que de público.
As vendas nunca chegaram nem aos pés das conseguidas pelo tradicional "Tex", o "western" mais popular dos quadrinhos italianos e, ainda hoje, o gibi que mais vende na Itália.
No Brasil, "Tex" é o maior sucesso da Editora Globo na área dos quadrinhos não-infantis.
"Ken Parker" é um sucesso para quem não dá bola para quadrinhos de faroeste. "Ele tem mais a ver com o cinema do que com os fumetti", afirmou Milazzo quando esteve no Brasil há dois anos.
O herói foi criado à imagem do Robert Redford de "Mais Forte que a Vingança" (Jeremiah Johnson). Paradoxalmente, "Ken Parker" nasceu na Sergio Bonelli Editora, a mesma de "Tex".
Mas enquanto "Tex" sempre despertou a ira de quem se preocupa com conteúdo dos quadrinhos, e foi acusado de racista e reacionário para baixo, "Ken Parker" sempre foi o queridinho da crítica.
E fez por merecer todos os carinhos. Lutou com os índios contra os brancos. Participou de greve. Defendeu a ecologia e teve uma namorada negra. Sempre do lado dos explorados.
Não tinha erro. Para completar a fachada, Ken Parker é um caubói que sempre preferiu livros a duelos. Os fãs do Tex torceram o nariz. Mas Ken Parker também, quando encontrou Tex no episódio "Homens, Feras e Heróis".
Para serem queridos da crítica, Berardi e Milazzo nunca perderam a chance de cometer suas "metalinguices", como colocar o Gordo e o Magro, Luke Lucky e outros em suas HQs. Até eles próprios aparecerem em um dos episódios.
Apesar de todas as poses, Ken Parker é um legítimo herói do Oeste: aquele cavaleiro solitário, o forasteiro que chega na cidade, enfrenta os bandidos e depois vai embora ao pôr-do-sol.

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