São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 1994
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Nutricionista saiu por discordar de médico

MÁRIO MOREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma série de divergências com o médico Mauro Pompeu foi a causa do afastamento voluntário da nutricionista Patrícia Bertolucci, 28, da seleção brasileira.
Em entrevista à Folha, ela revelou o teor dessas discordâncias e contou detalhes da sua saída da concentração da seleção, em Teresópolis, no sábado passado.

Folha - Por que você deixou a seleção?
Patrícia Bertolucci -Pelas resistências ao meu trabalho. Ficou claro que a decisão sobre o que os jogadores comeriam seria tomada apenas pelo doutor Mauro Pompeu.
Folha - Mas você tinha dito que achava naturais essas resistências.
Patrícia -Num primeiro momento, seria natural, até porque ele não me conhecia.
Mas no sábado de manhã, o doutor Mauro me disse claramente que quem resolveria a parte da nutrição dos jogadores seria ele. Aí, achei que não teria o que fazer lá.
Disse então ao Américo Faria (supervisor da seleção) que iria embora. Ele me pediu para esperar até a tarde, porque conversaria com os médicos. Depois, falou que eu estava liberada.
Folha - Nada do que você planejou seria aproveitado?
Patrícia -Quanto ao cardápio, a CBF queria de mim um plano para a Copa. Mas o doutor Mauro disse que poderia mudá-lo, pelos seus 20 anos de experiência no assunto.
Na parte dos suplementos nutricionais, receitei a ingestão de cápsulas de aminoácidos (elementos formadores das proteínas), que restauram o organismo do stress causado pela atividade física, e de carboidratos, misturados à bebida fornecida aos jogadores após os treinos, para recuperar o conteúdo energético dos músculos.
O doutor Mauro me disse que os seus estudos sobre aminoácidos não são conclusivos sobre a sua eficácia e que por isso não iria adotá-los. Quanto aos carboidratos, ele não achou necessários.
Folha - Não houve conversas preliminares sobre o trabalho que você faria?
Patrícia -Quando o Marco Antônio Teixeira (secretário-geral da CBF) e o doutor Lídio Toledo me convidaram, disseram que era para fazer o mesmo trabalho que desenvolvi no São Paulo.
Então, fiz uma proposta que incluía a elaboração do cardápio, a avaliação dos exames bioquímicos dos jogadores e a prescrição de suplementos.
O doutor Mauro me negou até o acesso aos exames, dizendo que eram da competência dele.
Folha - Nos quatro dias em que você ficou com a seleção, os seus cardápios foram utilizados?
Patrícia -Integralmente. Os jogadores inclusive gostaram. Também dei noções de nutrição ao cozinheiro, e ele foi muito receptivo.
Folha - Alimentos como paio, toucinho e carne seca, que serão levados pela CBF aos EUA, são prejudiciais aos atletas?
Patrícia -Eu condeno, porque eles dificultam a digestão.
Folha - Como é a alimentação dos jogadores do São Paulo?
Patrícia -São alimentos de fácil digestão, pouco gordurosos e ricos em carboidratos, como massas, batata e farináceos. Carne vermelha, só em pouca quantidade.

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