São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 1994 |
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Globo declara guerra à estética do clipe
ARMANDO ANTENORE
O documento, de caráter reservado, leva a assinatura de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Na hierarquia da Globo, Boni ocupa o primeiro escalão. É o vice-presidente de Operações. O executivo que decide o que entra ou não no ar: das novelas e minisséries às transmissões esportivas. O memorando do dia 18, encaminhado para produções e diretores do Rio e São Paulo, é curto e grosso: "Precisamos retomar uma linguagem direta, clara, menos nervosa. O vídeo `enlouquecido' já era." "Os `clips' estão abandonando essa forma e as `MTV' da vida procurando outros caminhos." "A palavra de ordem é simplificação. Efeito gratuito está proibido." "Alucinações como os efeitos e edições do `Esporte Espetacular' e `Regina na Geral' devem ser banidos por destruírem o conteúdo e serem uma desprezível e falsa forma de modernismo." "Chega!" Trocando em miúdos, Boni prega contra o excesso de intervenções gráficas em certos programas da Globo, os cortes rápidos entre uma cena e outra, a sobreposição de imagens, o movimento brusco de câmera. O motivo da cruzada, aparentemente, não são os índices de audiência. As produções que seguem a escola dos videoclipes podem não atrair público tão grande quanto produtos menos "malucos", como as novelas. Mas também não dão vexame. O "Esporte Espetacular", por exemplo, costuma registrar médias de 15 pontos (596.850 domicílios) na Grande São Paulo. É um desempenho satisfatório para o horário (sábado, das 13h45 às 15h15). O memorando coloca o problema em termos conceituais. Combate a linguagem dos clipes por considerá-la incompatível com a fácil compreensão dos programas. MTV Não é à toa que Boni cita a MTV. A emissora –que surgiu nos Estados Unidos em 81, chegou à Europa seis anos depois e aportou no Brasil em 90– tornou-se a principal responsável pela popularização dos videoclipes. Ousou transmiti-los quase que 24 horas por dia. Impingiu, assim, mais velocidade, mais "nervosismo" à televisão. Em pouco tempo, os publicitários norte-americanos incorporaram a nova estética. O memorando de Boni reconhece que o fenômeno se repetiu por aqui. Um dos primeiros programas do país a beber na fonte dos videoclipes foi o "Armação Ilimitada", que a própria Globo exibiu entre 84 e 88. O seriado tinha direção de Guel Arraes –o mesmo que, mais tarde, comandaria o humorístico "TV Pirata", também representante da "geração videoclipe". Outros diretores da Globo, como Jorge Fernando e Belisário França, seguiram trilhas similares à de Guel. Pelo que se deduz do memorando, Boni acha que a trilha desembocou em maneirismos. Próximo Texto: Repórter de ponta-cabeça motiva memorando Índice |
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