São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 1994
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Avante, Ricupero

ANTONIO DELFIM NETTO

Um dos sinais mais claros do permanente sentido de derrota e frustração daqueles que se pensam como a fina flor da inteligência nacional é o seu sadomasoquismo. Expondo-se a suposto sofrimento e impondo aos incautos sofrimento verdadeiro, mostram na sua arrogância o desejo infinito de poder. Poder que sempre é gorado pela impotência imanente do seu autoritarismo disfarçado. Perseguidos pelo espectro metafísico dos revolucionários sem causas, esgotam seu estoque de revolta no último "scotch" falsificado da madrugada, preparatório da nova batalha em que irão se engajar no dia seguinte, quando a ressaca for uma doce lembrança...
A idéia da "década perdida" é típica dessa perspectiva sinistra, que ignora que o Brasil faz parte do mundo. As dificuldades entre 1980 e 1989 foram grandes. Mas há razão para pensar que tudo foi perdido? O quadro abaixo mostra a situação da América Latina:
Quando observamos o Brasil dessa perspectiva, verificamos que ele enfrentou as vicissitudes internacionais das últimas duas décadas com resultados melhores do que se quer fazer crer.
Ao final da década dos 80, não éramos mais pobres do que no seu início. O que aconteceu foi uma cavalar transferência de renda produzida pelas flutuações da taxa de inflação, principalmente a partir de 1986.
Sofremos, como nossos parceiros não auto-suficientes na produção de petróleo, duas graves crises produzidas pela Opep. A primeira (1973/74) elevou o preço do barril de US$ 1,5 para US$ 12, produzindo uma substancial queda do poder de compra de nossas exportações. A segunda (1979/80) elevou o preço do petróleo de US$ 12 para US$ 34 o barril, deteriorando ainda mais nossas relações de troca. Com a crise mexicana de 1982, vimos aumentar a taxa do juro internacional acima de qualquer nível razoável e vimos desaparecerem, do dia para a noite, as fontes de financiamento internacionais. Apesar do forte endividamento feito para pagar o petróleo, o estoque da dívida brasileira com relação ao seu PIB era menor do que o de nossos vizinhos.
Em 1984, estávamos em plena recuperação e exportávamos mais do que a Coréia, ocupando 1,6% do comércio mundial. Isto, sim, foi perdido e, com ele, pelo menos 500 mil empregos!
Estamos hoje atrasados no ajuste monetário, mas nossa economia privada está sólida, enxuta, musculosa, como prova o crescimento de 1993. Ela está à espera de ser libertada das regulamentações e dos equívocos do governo. Faça isso, ministro Ricupero!

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