São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Ballet Stagium e `Carmina Burana' estréiam hoje

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Ballet Stagium, com o espetáculo "Paulistânia", e "Carmina Burana", peça do grupo teatral polonês Gardzienice, são as estréias de hoje do 4º Festival Internacional de Artes Cênicas.
"Paulistânia" resgata um roteiro para balé escrito especialmente para o Stagium em 1985 por Ademar Guerra. Um dos diretores teatrais mais importantes do Brasil, Guerra morreu ano passado.
Intimamente ligado à trajetório do Ballet Stagium, que está completando 23 anos de atividade, Guerra participou como diretor de vários espetáculos da companhia, entre outros "Dona Maria 1º, a Rainha Louca", "Navalha na Carne", "A Mi América".
"Tínhamos o roteiro de `Paulistânia' guardado e sempre achávamos que não era hora de montar", diz Márika Gidali, diretora do Stagium. "Sua produção, agora, serve como homenagem a Guerra".
Junto à TV Cultura, onde Guerra também trabalhou, o Stagium conseguiu uma série de vídeos sobre o diretor. Projetados num telão, são parte do cenário de "Paulistânia".
Com coreografia de Décio Otero, "Paulistânia" reúne cenas do cotidiano de São Paulo. Entre os personagens, há Dona Vitória, solitária moradora do bairro da Bela Vista (Bixiga), à espera da morte.
Nas referências a vários bairros da cidade, surgem ainda um office-boy e uma vendedora. "As músicas, escolhidas por Décio Otero, expressam a miscelânia paulista", explica Márika.
Com duração de uma hora, "Paulistânia" inclui na trilha sonora composições de Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, João Ribamar e Dólores Duran, Nino Rota, Geraldo Vandré, Tchaikovsky, Tom Waitts.
Gardzienice
Fundada em 1977 por Wlodzimierz Staniewski, a companhia Gardzienice reúne cientistas e artistas que fundamentam suas produções teatrais na pesquisa de culturas nativas.
O trabalho do grupo é comparado ao do compositor Béla Bartók no campo da música. Sediado na cidade rural que dá nome à companhia, o elenco do Gardzienice desenvolve suas peças a partir dos elementos dramáticos, eventos e cerimônias de culturas da parte leste e sul da Polônia.
Nessas regiões, além da cultura polonesa floresceram as tradições judaicas, russas, ucranianas, precedidas das bizantinas e ciganas.
As produções do grupo são resultado da convivência com comunidades cujas tradições podem ser extintas pela urbanização.
Festejado na Europa, principalmente na Grã-Bretanha, onde os críticos vêm celebrando a originalidade do grupo, o Gardzienice também se reporta as encenações da Idade Média, fundamentadas nas canções folclóricas.
"Carmina Burana", que será apresentado até domingo no Teatro do Sesc Pompéia, se inspira nas famosas canções medievais do século 13, que deram origem à obra musical homônima do compositor Carl Orff.
O texto da peça inclui os poemas originais escritos por um grupo de vagabundos chamado Gollards, que integravam a série de manuscritos sobre prazeres mundanos, encontrados em 1803 num monastério da Bavária, nos quais Orff se baseou para compor as cantatas de "Carmina Burana".
Através desses temas medievais, o grupo Gardzienice cria imagens alegóricas sobre a humanidade numa época de transição, dividida entre o paganismo e o cristianismo.
"Dessa forma, a Idade Média se transforma em metáfora da condição humana no mundo contemporâneo", explica o grupo. À margem das tendências atuais do teatro, o trabalho do Gardzienice vale ser conferido.

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