São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 1994
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Infecção misteriosa já matou 10 no Reino Unido

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Já são pelo menos dez os casos de morte causadas este ano no Reino Unido por uma infecção bacteriana que pode matar em menos de 24 horas.
O governo britânico pediu para a população não entrar em pânico e disse que o número de vítimas está dentro das estatísticas anuais da doença.
"Não há nenhuma evidência de que esteja ocorrendo uma epidemia", disse o médico Keneth Calman, a maior autoridade sanitária do país.
Conhecida pelo nome de fasciíte necrotizante, a infecção é causada pela bactéria estreptococo do grupo A, presente de forma inofensiva em cerca de 10% da população.
Geralmente ela só causa irritação da garganta, mas pode sofrer mutações e se tornar devastadora ao organismo, gangrenando e desintegrando tecidos a uma velocidade de 2,5 centímetros por hora.
O número de vítimas fatais registradas este ano no Reino Unido estava em seis até anteontem.
Os novos casos ocorreram em meses passados, mas só foram registrados agora.
Isso ocorreu porque no Reino Unido os médicos não são obrigados a notificar mortes causadas pela bactéria aos órgãos do governo, o que dificulta um balanço preciso do número de pessoas afetadas.
Há mais duas mortes sendo examinadas por laboratórios que podem ser atribuídas à bactéria, chamada pela imprensa de "micróbio assassino".
Segundo as autoridades médicas, laboratórios revelaram que as mortes deste ano não foram causadas por um único tipo de bactéria mutante.
A bactéria pode não ter sido afetada por um vírus específico, o que não caracterizaria uma epidemia.
Para Hugh Pennington, professor de bacteriologia da Universidade de Aberdeen, o número de mortes pode ser sinal de que a bactéria se tornou mais virulenta.
Parentes de vítimas da doença suspeitam das tentativas do governo de acalmar a população.
Eles argumentam que, se as mortes estão dentro das estatísticas, não haveria tanto barulho a respeito.
A doença começa a se manifestar com irritações e manchas na pele, enjôos, diarréia, vômitos, dores e inflamação nos gânglios linfáticos.
Pessoas idosas ou que sofreram cirurgias recentemente têm mais riscos de serem infectadas.
Mesmo com tratamento adequado e cirurgia, cerca de 30% dos casos terminam em morte do doente.
Os primeiros casos deste ano foram registrados na região de Gloucestershire (oeste do país), com três mortes.
O governo pensou no início que era uma "coincidência estatística local".
Mas já há registros de casos e mortes na Escócia (norte), Londres (sul) e País de Gales (oeste).

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