São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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A greve na USP

JOSÉ. R. DRUGOWICH DE FELÍCIO

Professores e funcionários da maior universidade do país paralisaram suas atividades para negociar os salários na data-base. Como as universidades públicas paulistas têm autonomia administrativa e financeira, a negociação se dá no âmbito do Cruesp, (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), que reúne USP, Unesp e Unicamp.
Até o momento, a proposta das reitorias é de repor o salário aos níveis de maio de 93, repetindo portanto o que já foi feito em 93 e 92. Oferecem também um pequeno aumento real (1,68%) que se contrapõe a uma solicitação de 20% por parte das categorias.
O Cruesp já deu por encerrada essa negociação, fixando para agosto novas conversações sobre recuperação salarial. As assembléias, por outro lado, ratificaram a posição de manter a greve, entendendo que o momento permite uma mudança no patamar que tem balizado os reajustes nos últimos anos. Vamos aos fatos.
A USP recebeu, nos quatro primeiros meses de 94, em função da sua quota-parte (4,73%) do ICMS do Estado, US$ 11 milhões mais do que em igual período de 93. Isso corresponde a um crescimento da receita em dólares, de um ano para o outro, de 10%. A despesa com outros custeios foi reduzida (US$ 4 milhões só no primeiro quadrimestre) em consequência de vários fatores que explicarei.
A USP concluiu, em 93, um programa de investimento em recursos humanos, equipamentos e construções, que teve o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ao longo de cinco anos, ela recebeu do BID cerca de US$ 60 milhões, mas teve que investir US$ 90 milhões no mesmo programa.
Mesmo conseguindo que o governo do Estado assumisse parte dessa contrapartida nacional, a universidade precisou desembolsar cerca de US$ 14 milhões por ano para cumprir as metas previstas.
O segundo fator foi a redução de pessoal. Nos últimos três anos, o corpo de funcionários diminuiu de 10%, equilibrando o crescimento da folha.
Finalmente, com a implantação do real, a universidade deixará de gastar US$ 1 milhão por mês para completar os salários no quarto dia útil.
Isso tudo acaba se refletindo nas planilhas do próprio Cruesp. Elas mostram que o gasto acumulado com pessoal, de janeiro a maio de 1994, é de apenas 77% do orçamento da USP (nos anos anteriores esse comprometimento nunca foi menor do que 85%).
De posse dos dados, não há como negar que a universidade pode reajustar os salários dos seus docentes e servidores com um percentual maior.

JOSÉ ROBERTO DRUGOWICH DE FELÍCIO, 41, físico, é professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP). Foi chefe de gabinete da reitoria (90-92) e coordenador da administração geral da USP (92-93).

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