São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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CBF começou com o pé esquerdo

ALBERTO HELENA JR.

Show é com eles mesmos. Os americanos, até mesmo para lhe prestar uma informação trivial, atuam com um olho dissimuladamente perscrutando uma câmera de TV invisível.
Assim, a chegada da seleção brasileira a San José da Califórnia não poderia ser outra coisa: um show, modesto, é verdade, discreto, mas com um roteiro leve e bem-humorado, precisão e eficiência.
A começar pelo desfile dos caminhões de bagagem. Eram quatro, em perfeita fila indiana, com dois carros de polícia, reluzentes, abrindo e fechando o silencioso cortejo que se movia lentamente na pista do aeroporto, diante de umas duas dezenas de jornalistas e seguranças.
Isso, ao som de uma reduzida, mas afinada, bandinha Dixie, formada por um pistão, um trombone, um banjo e uma tuba de aspecto secular, soprada com carinho e extrema atenção por Norman Bates.
Sim, Norman Bates, o afável californiano de cabelos grisalhos, óculos de aro de tartaruga, que herdou a centenária tuba e o nome que lembra o personagem de Hitchcock em Psicose do pai.
Presentes, todas as autoridades da região, que reúne as cidades de San Jose, Santa Clara, Santa Cruz e Los Gatos, onde se alojam nossos craques.
Nada de metralhadoras, canhões, cara feia ou cassetetes. Apenas a rigidez necessária para afastar os penetras e garantir a liberdade de ação dos jornalistas e da comitiva brasileira.
Tudo muito simpático, simples e eficiente.
Mas, quando entramos em campo, deu-se a confusão. A começar pelo presidente Ricardo Teixeira, o primeiro brasileiro a desembarcar do avião. Inadvertidamente, pisou a terra da Copa com o pé esquerdo.
A sorte é que Zagalo e Parreira, que vinham a seguir, não erraram o passo.
Mais tarde, no auditório do aeroporto, uma entrevista coletiva rápida e irrelevante. Logo, a turma correu para o ônibus, que disparou em direção à nova morada do nosso futebol, auspiciosamente denominada de Villa Felice. Meno male.

Não sei qual dos nossos craques neste momento está ocupando o quarto do hotel –concentração para os brasileiros–, que visitamos na véspera da chegada da delegação a Los Gatos.
Só sei que, da sacada do apartamento –um quarto suficientemente largo para abrigar duas camas de viúva, uma poltrona, TV, três bucólicas paisagens a óleo nas paredes e um banheiro com sauna–, descortina-se um cenário de cartão postal.
O rio Vasona vai-se espreguiçando sinuosamente entre bosques de ciprestes, pinheiros e extensos gramados até o sopé das montanhas de Santa Cruz.
Aqui e ali vê-se um bando de patos brancos deslizando pela superfície de águas claras ou um esguio barco de regatas movido com destreza por idílicos remos silenciosos.
Inspirados nessa paisagem, se não ganharem a Copa, nossos craques, no mínimo, terão de escrever com a bola belos poemas nos campos da América.

Disse que nada de relevante aconteceu na entrevista, e confirmo. Mas o que disse Parreira, não. A primeira pergunta da primeira entrevista coletiva na terra da Copa foi feita pela Folha.
Mais precisamente, pelo nosso companheiro Mário Magalhães, que queria saber se os números da inscrição dos jogadores na Copa antecipavam a escalação do time titular.
Parreira disse que não. Os treinos e os amistosos até lá é que definirão o nosso time na Copa. Quer dizer: ainda há salvação.
Branco e Raí, apesar de ostentarem os números 6 e 10 nas costas, terão ainda de ganhar no campo um lugar no time titular da Copa do Mundo.

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