São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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"Mr. Jones" banaliza problemas psiquiátricos

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Mr. Jones
Produção: EUA, 1993
Direção: Mike Figgis
Elenco: Richard Gere, Lena Olin, Anne Bancroft
Onde: a partir de hoje nos cines Olido 1, West Plaza 4, Paulista 3, Eldorado 3 e circuito

"Mr. Jones" coloca em questão algumas coisas, como a instituição psiquiátrica e as relações entre médicos e pacientes. Mais do que isso, porém, coloca em dúvida a boa impressão deixada pelo diretor Mike Figgis em "Justiça Cega".
Ali, Richard Gere tinha um bom momento, como o policial corrupto e, sobretudo, perverso a quem Andy Garcia combatia. Aqui, estamos outra vez às voltas com a ambiguidade.
Mr. Jones (Richard Gere) é um maníaco-depressivo com tendências suicidas, mas também um ex-menino prodígio. Lena Olin é Elizabeth Bowen, a psiquiatra encarregada de seu caso.
Mas, entre terapeuta e paciente cria-se um pacto que desafia os puros preceitos da pura ciência.
Bem, isso é mais velho do que andar para frente. Freud dizia com todas as letras que a cura pela psicanálise vem da relação amorosa (dita transferência) que se estabelece no tratamento.
"Mr. Jones" é um psicopata, o que não altera as coisas, no caso. O fato é que ele e Elizabeth se apaixonam, transam, e criam um problema duplo para ela. Ao mesmo tempo ético e amoroso.
O filme passa como vento pelas questões –nada pequenas– dos tratamentos psiquiátricos contemporâneos e se fixa no que existe de mais óbvio na história.
Isso termina por arrastá-la destestavelmente, sem que se chegue a parte alguma. Paradoxalmente, é por aí que se podem ver as virtudes de Figgis.
Determinadas cenas (os momentos iniciais, quando Gere equilibra-se no topo de uma casa em construção, por exemplo) são muito bem levadas.
Os atores também estão bem dirigidos (novamente, a ambiguidade de Gere é bem explorada). O conjunto não caminha aos trancos e barrancos, como no frágil "Tudo por Amor", em que Julia Roberts se apaixona por um paciente terminal.
Mas são justamente esses aspectos positivos que acabam por dar relevo ao que "Mr. Jones" tem de inconsequente.
Nesse sentido, teria valido a pena o produtor e sua equipe se afundarem uns tempos em certos filmes de Hitchcock ("Quando Fala o Coração" em particular). Ou em trabalhos recentes e ousados, como "Gemidos de Prazer".
Eles ensinam, de maneiras diversas, como se pode falar a um público amplo sobre assuntos delicados sem, por isso, vulgarizá-los.

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