São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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Maioria dos exilados não volta

MICHEL TATU
DO "LE MONDE"

Alexander Soljenitsin nunca conviveu muito com os outros dissidentes, mas agora destacou-se ainda mais deles... ao retornar.
Apesar de ter esperado quase três anos após o fim do comunismo no país para fazê-lo, ele se adiantou a todos os outros grandes opositores exilados durante a era brejneviana.
Andrei Siniavski, o mais ilustre dos emigrados ex-soviéticos na França, foi um dos primeiros a viajar para Moscou, em janeiro de 1989. Mas foi para enterrar o amigo Iuli Daniel. Alguns dias depois o escritor voltou a Paris.
Vladimir Bukovski, exilado pouco tempo depois de Soljenitsin (trocado pelo dirigente comunista chileno Luis Corvalán em 1976), retornou a Moscou várias vezes desde 1991, mas sempre como visitante. Mora no Reino Unido.
Seu caso é ainda mais interessante porque ele se posiciona vigorosamente sobre problemas russos.
O mesmo aconteceu com o escritor Alexander Zinoviev, que, apesar de simpatizar com conservadores e com saudosos do brejnevismo, ainda vive na Alemanha.
Outro "militante" de gênero muito especial é Eduard Limonov, que foi o representante do ultranacionalista Vladimir Jirinovski na França antes de separar-se dele, que considera "mole demais".
Através de um decreto de julho de 1990, Mikhail Gorbatchov havia devolvido a cidadania soviética a todos os que tinham sido privados dela desde 1966.
Mas, até Soljenitsin, nenhum dos "grandes" havia aproveitado a oportunidade para voltar.
Alexander Guinzburg e Vladimir Maximov permaneceram em Paris, assim como o ucraniano Leonid Pliutch, que havia militado antes de todos os outros pela independência de seu país.
A Alemanha ficou com Mikhail Voslenski, além de vários outros opositores menos conhecidos.
Várias razões explicam essa situação. No plano material, os antigos dissidentes "cavaram seu próprio nicho" no Ocidente, com mais ou menos sucesso, especialmente no sistema universitário, e não têm vontade de recomeçar num país que se tornou caótico.
No plano intelectual, eles erraram o alvo, até certo ponto, pois o sistema que denunciavam desapareceu: a nova classe política não precisa mais deles, e a literatura, ela própria em mau estado, está à procura de novos temas.
Há duas exceções. A maioria dos opositores judeus e outros antigos "refuzniks" virou a página russa e se inseriu em outros países, especialmente em Israel, onde seu principal representante, Anatoli Chtcharanski, que mudou seu primeiro nome para "Nathan", virou figura política importante.
Finalmente, a verdadeira exceção é a dos dissidentes que nunca emigraram, que hoje participam ativamente na vida da nova Rússia.
Serguei Kovalev, vítima da repressão por 15 anos, foi eleito deputado em 1990 e reeleito em dezembro passado. Ele é o "Sr. Direitos Humanos" de Boris Ieltsin.
O padre Gleb Iakunin, perseguido por Brejnev, mas também, mais recentemente, pela Igreja Ortodoxa, também virou deputado.
Um homem que não mudou realmente de atividade é Alexander Podrabinek.
Continua editando o mesmo boletim, o "Express Khronika", que faz o minucioso recenseamento das violações dos direitos humanos na ex-URSS. E ele ainda tem muita coisa a reportar.

Tradução de Clara Allain

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