São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Sistema de telefonia atende elite econômica

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O telefone residencial ainda é um privilégio da elite no Brasil. Segundo dados oficiais da Telebrás - empresa-mãe do sistema estatal de telecomunicações- 85% das famílias com renda mensal inferior a mil dólares não têm telefone.
Os 10,7 milhões de aparelhos instalados e em funcionamento atendem 95% das famílias com renda mensal superior a US$ 1 mil. Teoricamente, 7 em cada 100 brasileiros têm telefone, o que coloca o país na 42º posição no ranking mundial.
O Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento das Telecomunicações (IBDT), criado por 12 grupos empresariais para defender a quebra do monopólio estatal na revisão constitucional, calcula uma carência atual de 10 milhões de telefones no país.
O presidente da Telebrás, Adyr Silva, contesta os números do IBDT, mas admite uma carência de 1,5 milhão a 2 milhões de telefones e de grande demanda não atendida por serviços de transmissão de dados em alta velocidade.
Os números do IBDT são uma bomba contra os defensores do monopólio estatal das telecomunicações: 98% das propriedades rurais, 46,7% dos estabelecimentos de negócios e 58% das localidades brasileiras não têm telefone.
O presidente da Telebrás critica a veiculação dessas estatísticas como prova de ineficiência do serviço estatal e diz que um país com 32 milhões de pessoas em pobreza absoluta e outros 60 milhões com renda familiar inferior a cinco salários mínimos não pode comparar seus indicadores com os dos países desenvolvidos.
A campanha pela quebra do monopólio estatal, apesar de frustrada pelo esvaziamento da revisão constitucional, serviu para tornar públicas as deficiências do sistema brasileiro.
As telecomunicações são o negócio mais rentável do mundo. A Telebrás foi a empresa brasileira que mais lucrou no ano passado (US$ 1,4 bilhão), teria condição de investir até US$ 4,4 bilhões este ano com recursos próprios, mas não tem autonomia.
Seu orçamento deste ano foi limitado pelo Ministério da Fazenda em US$ 2,9 bilhões, o que não lhe permite apenas dar continuidade aos contratos antigos. Sem investimentos novos, a carência de serviços vai aumentar.
O primeiro mito que caiu por terra foi o de que os serviços de telefonia internacional, interurbanos e de transmissão de dados são caros porque subsidiam os telefones para a população de baixa renda.
As estatísticas da Telebrás mostram que 85% da população de baixa renda não têm telefone. Logo, o modelo tarifário montado para subsidiar a telefonia local em US$ 2 bilhões por ano perdeu o sentido social, já que os beneficiados estão nas faixas de maior renda.
Também ficou evidente a incapacidade do sistema estatal para atender, em curto prazo, a grande demanda reprimida por telefones celulares e pelos serviços de transmissão de dados.
Em São Paulo, há mais de 80 mil pessoas à espera do telefone celular. Na transmissão de dados, não há estimativa da demanda não-atendida até porque, segundo admite a Telebrás, se houvesse uma redução das tarifas, a procura se multiplicaria.
Atualmente, o custo do serviço transdata (aluguel de uma linha permanente com mais de 400 Km de extensão para transmissão de dados de um computador para outro) custa US$ 3,5 mil por mês no Brasil.
Na França, este mesmo serviço custa US$ 2,02 mil por mês; na Itália, custa US$ 1,34 mil e na Espanha, US$ 1,75 mil.

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