São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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A Câmara Setorial da aviação

LUÍS NASSIF

A decisão do presidente da República de permitir a criação de uma Câmara Setorial da Indústria Automobilística para a aviação civil pode ser o sinal para romper-se com a inércia, obrigar todos os parceiros do jogo a buscar saídas conjuntas e abrir mão de privilégios. E encerrar a maluquice de submeter setor de tal relevância econômica ao controle burocrático e corporativista do Departamento de Aviação Civil (DAC).
Tem-se dois tipos de problemas na área. Um de natureza macro, decorrente do processo de abertura caótica promovido pelo DAC. Outro, de impasses consideráveis entre empresas e funcionários, que os impediram até agora de abrir mão de privilégios em benefício geral.
Esses impasses aparecem muito claramente nos argumentos das partes envolvidas. O presidente da Viação Aérea Rio-Grandense (Varig), Rubel Thomaz, por exemplo, procurou a coluna com argumentos sobre o processo de reestruturação da empresa. Há uma série de indicadores significativos. De 1990 (ano recessivo) a 1994 a receita operacional saltou de US$ 214 milhões para US$ 567 milhões. Estudo da Booz Allen indica bons índices de desempenho no aproveitamento de lugares e na geração de caixa. De 1991 para cá a força de trabalho caiu de 28.870 para 25.211.
Thomaz consegue até levantar alguns exemplos de como a companhia conseguiu cortar na própria pele de seu sistema de comando –como a demissão de alguns diretores com décadas de casa. Tem também números para mostrar que a crise é internacional.
Mas é evidente que tudo o que foi feito até agora não foi suficiente para acenar com a recuperação vigorosa da empresa. De seu lado, representantes de funcionários sustentam que as resistências internas são enormes, em função da estratificação de feudos por toda a estrutura da empresa. Tem lógica.
Por sua vez, os funcionários tentam a todo custo conter demissões e nem falam em abrir mão de seus ganhos. A direção da Varig sustenta que foram acertados acordos trabalhistas com privilégios que tiram muito da competitividade do setor –como a tripulação receber auxílio-alimentação quando voa, mesmo comendo no próprio vôo. Mas como abrir mão de privilégios no ar, sem uma amarração maior?
Acordos e privilégios
Sem um fator externo de pressão, continuará sendo difícil à direção da Varig acelerar os ajustes, e aos funcionários da empresa abrir mão provisoriamente de ganhos –-mesmo com a sombra do desemprego pairando sobre suas cabeças.
O fato externo é justamente o acordo negociado no âmbito da Câmara Setorial, obrigando todas as partes envolvidas a abrir seus números e a chegar a um acordo em torno do diagnóstico do setor. Do lado do governo, haverá a possibilidade de monitorar esse processo de abertura indiscriminada do mercado em troca de compromissos firmes de melhoria de produtividade e de redução de tarifas.
A Câmara permitirá, finalmente, criar um novo desenho institucional para o setor, livrando-o da tutela da Aeronáutica. Nossa brava Força Aérea é estupenda em avião de combate. Atrás de uma escrivaninha produz mais estragos entre os setores que administra do que todas as baixas causadas pelo Senta-a-Pua nas forças do Eixo.

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