São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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O real e o mercado imobiliário

ROBERTO CAPUANO

A nova moeda deverá trazer profundas transformações no atual quadro do mercado imobiliário.
A começar pela locação, onde é mais do que previsível um crescimento de oferta. Com os aluguéis praticamente com reajuste mensal, fica afastado o motivo que gerava incerteza nos proprietários, pois a semestralidade impunha pesadas perdas ao locador, obrigando-o, quando se dispunha a alugar, a colocar um sobrepreço inicial para prever a perda inflacionária.
O real deverá trazer à realidade a rentabilidade verdadeira das aplicações financeiras, que, expurgadas as taxas, ficará em 0,5% em média.
Um aluguel, principalmente de imóvel pequeno, gira em torno de 0,8% a 1% sobre o valor de venda.
O pequeno e médio poupador não pensará duas vezes em trocar suas aplicações, já despidas do fascínio numérico das aplicações, pela solidez de um imóvel com o dobro da rentabilidade, mais solidez, valorização e segurança.
Sem contar que os primeiros ainda aproveitarão os preços extremamente convidativos da atual oferta imobiliária.
A locação residencial fica assim muito mais atraente que a comercial, pela excelente razão que cresce a cada minuto o número de inquilinos em potencial e a oferta, mesmo com a entrada dos imóveis atualmente fechados, nem passa perto das necessidades da demanda.
Ao contrário, os imóveis comerciais continuam superofertados e com poucos tomadores neste momento crítico da economia.
Esgotada a oferta de imóveis prontos, abre-se uma larga avenida para o mercado de lançamentos, onde devem proliferar produtos ausentes do mercado há muitos anos, como o quarto e sala, por exemplo, cuja rentabilidade em termos locatícios chega a atingir 1% sobre o valor aplicado.
Com uma moeda estável e com a demanda por imóveis pequenos devem reingressar no mercado pequenos construtores, produzindo com recursos próprios e financiando particularmente.
Também deve haver uma modificação no sistema de pagamento dos imóveis usados, com os proprietários mais propensos a conceder prazos mais longos de pagamento, restabelecendo o uso e costume de comprar e vender a prazo, fato corriqueiro até meados de 1973.
Isto permitirá a muito mais gente adquirir o primeiro imóvel, mesmo que pequeno, gerando a reação em cadeia que poderia ter acontecido há muitos anos, não houvesse a extrema má vontade dos agentes financeiros em conceder financiamento para imóveis usados.
Convém ressaltar, que o real não é uma varinha mágica que com um simples plim-plim mudará tudo. Estas alterações ocorrerão, acredito, inevitavelmente, mas dentro do ritmo do mercado imobiliário, cujas mudanças são sempre lentas e gradativas. De qualquer forma, virão e poderão de vez resgatar uma área importante da economia, completamente desprezada pelo governo.

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