São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Saiba o que foi a Inconfidência Mineira

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DO ENVIADO ESPECIAL A PIRACICABA

A Inconfidência Mineira é considerada a primeira tentativa de emancipação do Brasil de Portugal. A conspiração se deu em 1789, em Vila Rica, atual Ouro Preto, então sede da capitania de Minas Gerais. Dos doze envolvidos condenados à morte, somente o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, acabou executado, em 21 de abril de 1792.
O movimento surgiu à luz da Independência dos EUA, em 1776. Um estudante brasileiro, José Joaquim da Maia, chegou a entrevistar-se, na França, com Thomas Jefferson, pai da Independência dos EUA. A Constituição americana passa a ser a bíblia dos inconfidentes e chega a ter extratos traduzidos pelo cônego Luiz Vieira.
Na época do movimento inconfidente, o Brasil tinha 3,6 milhões de habitantes. Minas Gerais liderava o ranking populacional, com 463 mil homens livres e 168 mil escravos. A antiga capitania também batia o recorde de produção de ouro, com um total de 47,5 mil arroubas, entre 1700 e 1801.
Mas reduzia-se a produção oficial de ouro, o que representava menor arrecadação tributária para a Coroa portuguesa. O então governador Luiz Antonio Furtado de Mendonça, o Visconde de Barbacena, lançou a Derrama, nome dado à cobrança de impostos atrasados. Pela Derrama, os mineiros teriam de pagar, de uma só vez, 596 arroubas de ouro. Isso representava, por exemplo, quatro vezes todo o outro arrecadado em 1760, por 400 mil habitantes.
No dia marcado para o novo imposto, 23 de abril de 1789, os inconfidentes programaram o levante contra a Coroa.
Mas com a delação de Joaquim Silvério dos Reis, o movimento foi esvaziado. O vice-rei d. Luis de Vasconcelos suspendeu a Derrama e mandou que se prendessem 12 conspiradores. O processo durou três anos.
Preso, o poeta Claudio Manuel da Costa morreu em circunstâncias não esclarecidas. Tiradentes foi enforcado e esquartejado, em 21 de abril, às 11h20, no Rio de Janeiro. Em 2 de maio de 1792, o governo português exilou os demais conspiradores para Portugal e África, entre eles o poeta Tomás Antonio Gonzaga.
Ao contrário do que se pensa, Tiradentes morreu careca e sem barbas. Segundo o pesquisador Eduardo Daruge, o carrasco de Tiradentes ainda saltou sobre seus ombros, pulando para apressar sua morte na forca.
Diz Rui Mourão, diretor do Museu da Inconfidência, que a imagem de Tiradentes barbudo e cabeludo foi uma "invenção dos republicanos". "Queriam criar uma imagem parecida com a de Jesus Cristo", afirma.
(CJT)

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