São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Abstenção ameaça eleição na Colômbia

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O governo colombiano acabou com o "estado de comoção interna", para que as eleições de hoje se realizem em condições de normalidade constitucional, mas foi mantida a "emergência judiciária", destinada a apressar julgamentos de traficantes de drogas e guerrilheiros.
Conversas pelo rádio entre comandantes das Forças Armadas Revolucionárias, gravadas pelos serviços de inteligência e publicadas pelo jornal "El Tiempo", de Bogotá, falavam da preparação de atos violentos de sabotagem. A preocupação maior, no entanto, é com previsões de enorme abstenção, aumentando descréditos na democracia considerada uma das mais "estáveis" do continente.
Desde 1958 a Colômbia escolhe seus presidentes sem rupturas institucionais. A resistência popular em ir às urnas não é novidade no país. A maior votação, conseguida em 1986, representou apenas 46% do eleitorado de 16 milhões.
Era esperado que a política oficial de pacificação, com a transformação da guerrilha M-19 em partido legal, estimulasse comparecimentos e isso não acontece. A maior prejudicada é a Aliança Democrática –M-19, que nas constituintes de 1990 surpreendeu fazendo grande bancada, já quase toda destroçada. Seu candidato, Antonio Navarro Woll, ocupa hoje num distante e inviável terceiro lugar.
A guerrilha pacificada não consegue tornar-se alternativa aos dois partidos tradicionais, o Liberal e o Conservador, o que pode comprometer ainda mais esforços para atrair os que continuam em armas.
Como sempre, há dura disputa entre os candidatos liberal, Ernesto Samper, e conservador, Andres Pastrana. O jornal "El Tiempo" diz que ganha Samper, com 45% contra 40%, enquanto a revista "Semana", a mais importante, dá Pastrana na cabeça, com quatro pontos à frente, mas sem chegar à metade mais um.
Quase certo, portanto, que os dois irão para o segundo turno. O curioso é que o conservador Pastrana se apresenta com programa "neoliberal" próximo das idéias do atual presidente, César Gaviria, do partido Liberal, cujo candidato, Ernesto Samper, promete "salto na direção do social", em oposição ao "capitalismo selvagem".
Ambos não passam de "bons construtores de frases", segundo cientistas políticos colombianos, e jogam igualmente com estimativas de entradas de mais US$ 3,5 bilhões, produzidas pelo aumento de mais de 50%, também ainda no terreno das estimativas, das exportações petrolíferas.

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