São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Franceses e italianos faltam mais às sessões

ANDREW MARSHALL
DO "THE INDEPENDENT", EM BRUXELAS

O índice de comparecimento dos deputados do Parlamento Europeu às sessões revela acentuadas diferenças nacionais.
Segundo uma pesquisa realizada pelo "The Independent", os deputados franceses e italianos são visitantes pouco frequentes em Estrasburgo. Os deputados do Reino Unido, com poucas exceções, estão entre os mais assíduos.
Alguns deputados franceses e italianos deixaram passar anos inteiros sem se preocupar com seus deveres.
Os franceses costumam utilizar o Parlamento Europeu como lugar para "estacionar" seus políticos mais idosos e aqueles que estão a caminho de cargos melhores.
O magnata da mídia e "publisher" de jornais franceses Robert Hersant é um caso especialmente grave, tendo comparecido a apenas 4% das sessões. Ele está se candidatando à reeleição este ano.
A pesquisa foi realizada conjuntamente pelos jornais "The Independent", "Frankfurter Allgemeine", "El País", "The Irish Independent" e "Libération".
Ela se baseia nos registros oficiais de comparecimento, que devem ser assinados por todos os deputados, das sessões realizadas entre julho de 1989 e março de 1994.
O Parlamento Europeu dispõe dos dados mas não os revela para evitar constrangimento.
O comparecimento às sessões não representa o único indicativo da dedicação de um deputado; alguns deles são notados por sua participação em comitês.
Mas é nas sessões plenárias em Estrasburgo e Bruxelas que as votações importantes são realizadas.
Alguns deputados operam o sistema conhecido como SISO (iniciais em inglês para "sign on, sod off", ou "assinar o registro e picar a mula").
Mas na ausência de qualquer outro indicador, o registro assinado é uma das poucas maneiras de mostrar quem são os deputados mais engajados.
Os deputados britânicos comparecem em média a 80% das sessões, assim como seus colegas alemães e gregos.
Os deputados britânicos do Partido Trabalhista são um pouco mais assíduos do que os do Partido Conservador, com 83% de comparecimento contra 77% destes.
Apenas um deputado britânico tem um índice de faltas realmente grave: Ian Paisley, deputado da Irlanda do Norte, do Partido Democrático Unionista, compareceu a apenas 39% das sessões.
Os que mais compareceram foram Henry McCubbin, Steven Hughes, Terry Wynn e John Tomlinson, trabalhistas, e Edward Kellet-Bowman, conservador, todos com mais de 96%.
A melhor média é a dos deputados irlandeses e holandeses, com 86%. Os irlandeses atribuem grande importância ao Parlamento devido ao dinheiro que recebem.
Embora existam diferenças partidárias de comparecimento, elas parecem ser muito menos importantes do que a cultura política nacional para explicar por que os deputados comparecem ou não.
Cada sessão plenária mensal em Estrasburgo dura cinco dias, e os registros mostram que alguns deputados faltam às segundas ou sextas-feiras, ou nos dois dias.
Alguns eurodeputados costumam faltar em todos os cinco dias de cada sessão. A cifra de comparecimento dos italianos (60%) é quase uma superestimativa; a média francesa é de 66%.
Muitos deputados comparecem apenas algumas vezes, e é difícil saber, pelo registro parlamentar, se abandonaram a instituição completamente.
Achille Occhetto, líder dos comunistas reformistas italianos, praticamente nunca compareceu, nem tampouco Bettino Craxi, ex-líder do Partido Socialista.
As faltas são importantes porque prejudicam a credibilidade e a operação do Parlamento Europeu. O nível geral de comparecimento é de aproximadamente 70% a 75%.
Alegações de que o Parlamento não vem funcionando bem têm suscitado pedidos por medidas que coloquem ordem na casa.

Tradução de Clara Allain

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