São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Novas novelas têm defeitos e qualidades complementares

SÉRGIO DÁVILA
DA REVISTA DA FOLHA

Novas novelas têm defeitos e qualidades complementares
As duas novelas mais novas da TV se complementam em seus vícios e virtudes. O que falta a "Tropicaliente", novo título das 18h da Rede Globo, sobra em "Éramos Seis", a volta do SBT à teledramaturgia própria. E vice-versa.
Explica-se: "Tropicaliente", novela de Walter Negrão dirigida por Paulo Ubiratan, é sol, é mar. É o fim do caminho: atores bonitos em cenários bonitos falam coisas bonitas e vivem uma vida bonita.
Os teens do elenco -um bom núcleo de atores, até- só transam depois do casamento, não usam drogas, não se rebelam com nada.
História: pescadores (glamourizados, algo como Dorival Caymmi em ritmo de axé-music) de um lado e ricos (mas bonzinhos) de outro se relacionam, vivem e amam. Entre uma cena e outra, o barquinho (dos pescadores) vai, a tardinha (de um Ceará idílico) cai.
(Por falar em Ceará idílico, o governo do Estado investe US$ 500 mil na novela. O fovernador é Ciro Gomes, do PSDB. O mesmo partido de FHC, candidato à Presidência. A vida é mesmo cheia de coincidências gratuitas.)
Se há técnica e dinheiro na Globo, esccasseia o "know know" no SBT. É por aí que a coisas pega em "Éramos Seis", adaptada por Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho.
A maquiagem é, de fato, pesada; os atores se portam como num baile de fantasia -e não como personagens caracterizados para a época; e "turcos", "espanhóis" e "caipirass" do elenco forçam sotques.
Mas, com tudo isto, a nova novela da emissora de Silvio Santos leva jeito de sucesso -mesmo se olhada sem a condescendência que tomou conta, por exemplo, das críticas recentes a filmes nacionais. Tem o frescor interpretativo de Denise Fraga e o sempre bem Osmar Prado. Tem o bonde e o circo cenográfico, pequeno e bem-cuidado.
Tem, mais do que tudo, o "plot". É ousasdo, porque conservador. Assim: é como se a dona de casa visse sua vida passar no vídeo. Dá-lhe crochê, tricô, dois dedos de prosa, conflitos familiares, amores de meia-idade, dificuldades financeiras. A empatia é imediata.
A história "singela" da pobre "Éramos Seis" contra a exuberância vazia da rica "Tropicaliente". Falta uma que reúna as duas.

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