São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 1994
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Amin usou banco estadual para eleições

EUMANO SILVA; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um relatório do BC (Banco Central) de outubro de 1987 afirma que durante o governo de Esperidião Amin (1983 a 1987) o Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) foi usado para favorecer o partido do governador. Amin é candidato à Presidência pelo PPR.
O documento foi produzido durante intervenção do BC no Besc. A intervenção começou em 11 de março de 1987 e durou 13 meses, quando o processo foi arquivado.
O relatório diz que o Besc contratou ônibus para transportar eleitores de todo o Estado, inclusive funcionários para um comício em Florianópolis, em 1985.
O comício seria do candidato de Amin à Prefeitura de Florianópolis, Francisco Assis, derrotado por Edson Andrino, do PMDB.
O artigo 91 da Lei Orgânica dos Partidos proíbe o uso de recursos públicos em campanhas eleitorais.
O documento afirma também que foram realizadas 928 contratações na época da eleição. A lei eleitoral que vigorou em 1985 proibia esse tipo de contratação.
Os documentos foram obtidos pela Folha através dos deputados José Dirceu (PT-SP) e Luci Choinacki (PT-SC), que investigaram o governo de Amin.
Ambos têm interesse em sua divulgação porque Amin é adversário de Lula na eleição presidencial.
O governo Amin começou a ser investigado depois que ele propôs, em novembro de 1992, a quebra do sigilo bancário da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Depois, Amin pediu a realização de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as relações da CUT com o PT.
Na última sexta, Amin entrou com uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo uso em comício de um carro de som do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
As contratações do Besc, segundo o documento do BC, eram feitas a partir de indicações de políticos ligados a Amin. Eles endereçavam bilhetes à direção do banco indicando o nome das pessoas que deveriam ser nomeadas.
A própria mulher de Amin, Ângela, encaminhou pessoas à direção do banco para serem contratadas. Hoje, ela é deputada federal e candidata ao governo de Santa Catarina pelo PPR.
Num bilhete endereçado no dia 16 de julho de 1985 ao secretário geral do Besc, Cláudio Zattar, Ângela pede que Germano Augusto Bleiser seja aproveitado pelo banco. O bilhete, em um cartão timbrado com o nome da deputada, tem também sua assinatura.
O nome Zattar aparece em vários bilhetes semelhantes ao de Ângela. Cerca de 150 bilhetes foram obtidos pela Folha. Ângela é indicada como "madrinha" em pelo menos cinco outros bilhetes.
Em relação à contratação de ônibus, o relatório do BC diz que o Besc usou um "subterfúgio" para justificar contabilmente o dinheiro usado no pagamento do aluguel.
Segundo o BC, os gastos com ônibus foram contabilizados como doações dos funcionários do Besc.
As conclusões do Banco Central se baseiam em depoimentos de representantes de funcionários e em documentos internos do Besc.

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