São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 1994
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Eleição exige preparo físico de candidatos

CLÁUDIA TREVISAN; FERNANDO MOLICA
DA REPORTAGEM LOCAL

Campanha política não é para qualquer um. Mas bem ou mal, todos aguentam. Entre os presidenciáveis, há os que têm preparo físico suficiente para correr uma maratona. E há os que só andam nas eleições, atrás do voto.
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que lidera as pesquisas com 40%, não faz qualquer exercício regularmente.
Já andou mais de 30 mil quilômetros pelo país e, como todos os candidatos, dorme de quatro a cinco horas por noite e não tem regularidade na alimentação.
Desde o início de sua campanha, há mais de um ano, seu organismo se rebelou uma vez: Lula ficou afônico na caravana do Centro-Oeste, no caminho entre Tocantins e Goiás.
Um terror para quem tem na voz um dos principais intrumentos de persuasão do eleitor. O candidato do PPR, Esperidião Amin, parou de fumar em 90 para combater um problema nas cordas vocais. Ele também tinha ficado afônico às vésperas de um comício.
As semelhanças param aí. Amin corre cerca de sete quilômetros duas vezes por semana e faz ginástica outras três. Sempre que pode, joga tênis e futebol.
"Há 18 anos, tomo alcachofra composta com boldo e jurubeba para auxiliar a digestão", diz.
Completa a receita com comprimidos de guaraná e de alho.
Orestes Quércia, do PMDB, corre de quatro a sete quilômetros por dia e faz ginástica em uma sala de sua casa. Tenta evitar alimentos gordurosos e não gosta de dormir fora de casa em campanhas.
"A tensão é outro grande problema, que eu controlo com exercícios respiratórios", diz Quércia.
Segundo colocado nas pesquisas, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) abandonou as caminhadas em Brasília quando foi indicado para o Ministério da Fazenda.
Come de tudo e, segundo assessores, sofre com as poucas horas de sono durante a campanha -principal reclamação de Lula.
Preparo físico não é sinônimo de longevidade. Aos 72 anos, Leonel Brizola (PDT) não faz exercícios e dorme pouco.
Fora dos períodos de campanha, costuma almoçar em casa: arroz, feijão, carne e batatas fritas. Eventualmente, come arroz integral e outros alimentos comprados em locais de produtos naturais.
A irregularidade da alimentação é um problema enfrentado por todos os candidatos. Há dias em que são obrigados a jantar três vezes por compromissos políticos e outros em que não conseguem comer.
Alguns engordam e outros emagrecem. O candidato do PF, Flávio Rocha, já viveu as duas situações.
Em 86, perdeu peso na campanha para se eleger deputado pelo Rio Grande do Norte. A culpa foi da buchada -de bode ou de boi-, prato típico do sertão nordestino detestado por Rocha.
"Em todos os lugares do interior eu era recebido com uma buchada, e a pior ofensa que eu poderia fazer a um chefe político local era recusar o prato", lembra.
Rocha não comia a buchada, mas não pedia outro prato. Na eleição seguinte, em 90, o candidato espalhou pelo Estado que seu prato preferido era galinha caipira. Se livrou da buchada e chegou ao fim da campanha mais gordo.
Dormir pouco, comer mal e ficar constantemente exposto à tensão pode parecer um inferno para os comuns mortais. Mas nada como a possibilidade da vitória para estimular os candidatos.
Quércia lembra de um fato que ilustra bem essa motivação especial. Durante a sua campanha para o Senado em 74, o deputado Ulysses Guimarães reclamava que eles não paravam para almoçar.
"Quando eu fazia campanha com o Prestes Maia a hora do almoço era sagrada", dizia Ulisses, segundo Quércia. "Ele ganhava eleição?", perguntou. "Não, respondeu Ulysses. A campanha continuou e ninguém mais reclamou.
O jornalista Ricardo Kotscho diz que, na disputa presidencial de 84, perguntou a Tancredo Neves como ele aguentava o ritmo da campanha com 74 anos. E ouviu: "É vitamina P, P de poder".

Colaborou FERNANDO MOLICA, da Sucursal do Rio.

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