São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 1994
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Trabalho discute papel do acaso na fotografia

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O acaso é algo tão importante em ciência que até tem nome especial: "serendipity" ( "serendipidade", na falta de tradução melhor do inglês). Descobertas foram feitas ao acaso, apesar de muitos pesquisadores relutem em admiti-lo.
Em arte, há relutância ainda maior em atribuir ao acaso um papel importante, pois isso tiraria parte do mérito da criação artística.
O fotógrafo Ronaldo Entler optou por uma visão mais humilde, e estudou em sua tese de mestrado o papel do acaso na sua arte, e profissão, a fotografia.
Entler começou definindo o acaso como um fenômeno que só se torna significativo quando alguém o percebe e confere importância.
"Se alguém atira de olhos vendados, o disparo terá uma direção aleatória. Mas apenas se a bala atingir um alvo significativo o acaso será evidenciado", declara.
Trocando-se o disparo de um revólver pelo disparo de uma câmara, a situação não muda muito.
Segundo Entler, "por uma peculiaridade da técnica, o desfecho da ação do fotógrafo é sempre abrupto: o clic".
Qualquer sujeito que já disparou uma câmara pode ter percebido o efeito do acaso. "Esses acidentes são mais frequentes do que se pode imaginar, mas raramente o fotógrafo o assume", diz Entler.
A tese inclui vários exemplos de fotos nas quais o acaso deu seu papel –há fotos de fotógrafos conhecidos, outras do próprio autor.
Há fotógrafos, diz Entler, que assumem o papel do acaso. "William Klein, por exemplo, fotografa situações dinâmicas aceitando tudo que não pode controlar ou mesmo ver na cena.".
Segundo Entler, Klein foi ainda mais longe: "sabe-se também que ele fotografou algumas vezes sem olhar pelo visor".

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