São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 1994 |
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David Byrne faz percurso de volta às raízes
SÉRGIO MALBERGIER
O novo disco, "David Byrne", é o que mais lembra sua extinta banda. Talvez por isso, é também um disco muito pessoal. Não só tem o nome de seu autor como traz no encarte fotos com hipercloses de partes do corpo de Byrne e até uma radiografia de seus dentes. "Este disco é mais pessoal, o que as músicas dizem quase sempre refletem o meu ponto de vista e não o de um personagem", diz. Há até referências biográficas explícitas. Em "Lilie of the Valley" ele canta: "Mamãe teve complicações/ Eles dizem: `Não podemos matar o bebê'/ Vamos ter que deixar a sua mãe morrer"'. A mãe de Byrne quase morreu em um hospital católico do Canadá que se recusou a fazer um aborto de emergência. Ela foi para um outro hospital e se salvou. O Talking Heads foi formado por Byrne e alguns colegas de uma prestigiada escola de design da costa Leste americana. A banda tornou-se um dos expoentes da cena punk-new wave americana e recebeu aclamação unânime da crítica. Mas Byrne queria mais. Compôs trilhas sonoras para filmes, balés, dirigiu seu próprio filme (o hilariante "Histórias Reais", de 85) e foi garimpar inspiração na música latino-americana. Criou seu próprio selo, Luaka Bop, onde produziu compilações de música africana, cubana e brasileira (de Gonzaguinha a Tom Zé, passando por Zeca Pagodinho). Agora voltou para si e caiu no Talking Heads. O baixo e percussão marcantes da banda estão de volta. Das 12 faixas, pelo menos nove têm a cara dos Talking Heads. A latinidade marca presença em duas músicas. "Sad Song" é um bolerão cujo refrão é o famoso "tchá-tchá-tchá". A letra lembra até Vinicius de Moraes: "Há os que são felizes/ Há os que são sábios/ Mas são as pessoas realmente tristes/ Que aproveitam mais a vida". Já a oitava faixa, "My Love is You", pode se passar perfeitamente por um samba-balada de Caetano Veloso. Acompanhado por violão e chocalho, Byrne canta que "alguns homens querem suas mamas/ e outros querem uma jovem baiana". Mas Byrne, 42, acabou ficando mesmo com sua mulher e filha, em uma confortável casa em Nova York. Texto Anterior: Irmãos rivalizam em `Duelo ao Sol' Próximo Texto: `Rock adulto' dá o tom no show Índice |
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