São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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Árabe quebra tabu na terra do crioulo

SÉRGIO PRADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Na cidade praiana de Osório (RS), o haras El Aduar, do cirurgião plástico e historiador gaúcho Ernesto Silveira Neto, se destaca como um criatório modelo de cavalo árabe.
Este ano, Silveira Neto recebeu da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Árabe o prêmio de melhor criador nacional.
"Foi o reconhecimento de um trabalho de 20 anos no aperfeiçamento genético e luta contra o preconceito existente no Estado de que os árabes são inadequados para montaria", diz.
A batalha se deu no campo do inimigo, uma vez que o RS é reduto do cavalo crioulo, raça de origem argentina domina o gosto e o mercado local.
Hoje cerca de 200 árabes puros pastam nos 400 ha do El Aduar, o segundo haras brasileiro em número de animais.
O início da trajetória deste haras começou em 1972, quando Silveira Neto comprou um garanhão no Uruguai e iniciou suas pesquisas sobre a raça.
Descobriu a seguir que na Argentina havia cavalos descendentes de exemplares trazidos do deserto da Síria. Ele recuperou um garanhão e algumas éguas de duas das 23 linhagens, as primeiras trazidas para a América por Hernan Ayerza em 1892.
Seus estudos apontaram depois para a Polônia, onde existem hoje os melhores árabes do mundo.
Mas não foi apenas contra a tradição que Silveira Neto teve de brigar. "Desde os anos 70 estou tentando mostrar que fazer cavalos só para exposições é um erro".
Segundo ele, o privilégio à morfologia limita as possibilidades de comercialização. Os animais são repassados de um criador a outro por altos preços.
Silveira Neto está abrindo uma filial de seu haras no MS. "O futuro da agropecuária está no Centro-Oeste e será preciso cavalos esbeltos e leves, com pernas e batimentos cardíacos perfeitos, para lidar com gado", diz.
Os fazendeiros locais usam principalmente muares na lida com os bovinos.
Para Silveira Neto o árabe será "o nelore dos equinos". Ele aposta na criação a campo como forma de baixar o custo do animal.
No El Aduar pode-se comprar cavalos por preços que variam entre US$ 800 e US$ 2.000.
"Manter os animais em cocheiras custa mais de US$ 200 ao mês e os torna de difícil colocação no mercado. Este modelo vai desaparecer".

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