São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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"Retratos de Genésia" abre série da Cultura sobre temas sociais

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Programa: Os Retratos de Genésia
Produção: TV Cultura, 1994
Direção: Carlos Alberto Vicalvi
Quando: hoje, às 22h30, na Cultura

"Os Retratos de Genésia", o primeiro de um pacote de quatro documentários sobre problemas sociais brasileiros que a Cultura exibe de hoje a sexta-feira, tem as muitas virtudes e os poucos defeitos do telejornalismo da emissora.
O programa focaliza a migrante nordestina Genésia Miranda, líder comunitária da favela Heliópolis, a maior de São Paulo, com 50 mil moradores. A partir de Genésia e sua família, o documentário aborda as condições de vida na favela.
O modo como essa realidade complexa e dramática é mostrada foge da espetaculosidade do "Globo Repórter" e do sensacionalismo do "Aqui Agora". Há sobriedade e respeito às pessoas retratadas. Mais que isso: há uma clara simpatia por essa "gente pobre arrancando a vida com a mão".
Nisso reside o problema maior do documentário. Genésia e seu marido não são um casal comum de favelados. Generosos, politizados, corajosos, eles são apresentados não como um paradigma do que existe, mas como um modelo a ser seguido. São perfeitos demais, o que dá ao programa um tom semelhante ao da série "Gente que Faz", do Bamerindus.
Quanto à linguagem, o programa cai num vício muito comum ao dito "telejornalismo verdade": a encenação de certas situações como se fossem cenas espontâneas.
A certa altura, por exemplo, o filho de Genésia diz que o pai lhe fez uma vez uma surpresa: levou-o ao estádio para ver um jogo do Corinthians. Em seguida, vemos pai e filho indo para o estádio e depois vibrando na arquibancada. O que foi filmado primeiro? Em que medida essa ida ao estádio foi induzida pela equipe do filme?
Esse procedimento não chega a comprometer a importância do documentário, que integra a série "Família", uma co-produção de emissoras de dez países.
Além de "Retratos de Genésia", há outro documentário inédito entre os quatro programados pela Cultura: o excelente "Profissão: Doméstica", produzido pelo Centro de Criação de Imagem Popular e programado para quinta-feira.
O filme entrecruza histórias de domésticas do Rio, traçando um vivo painel desse fenômeno nacional –a empregada agregada à família de classe média.
Os outros filmes –"Laços de Menina" (amanhã) e "Leituras de um Aposentado" (sexta)– já foram exibidos antes.
(JGC)

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