São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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Racismo aproxima fascistas e nazistas

PHILIPPE BRURRIN
ESPECIAL PARA O "LE MONDE"

Tanto o fascismo quanto o nazismo viram suas corridas destrutivas terminarem em derrota militar. Apesar disso, a condenação que os envolve pesa mais sobre o segundo, com razão.
O regime nazista deixou em seu rastro destruição e sofrimentos indescritíveis; é um regime assassino por excelência, em virtude de seus princípios ideológicos.
O racismo levou à tentativa de depuração da sociedade alemã, à esterilização forçada de estimadas 300 mil pessoas, depois ao assassinato de 70 mil doentes mentais.
Hoje, quando os neonazistas agridem não apenas estrangeiros mas também alemães doentes ou deficientes, eles demonstram ser seus herdeiros fiéis.
Após as vitórias militares do regime nazista, o mesmo racismo o levou a empreender a remodelagem racial do continente europeu, a integração forçada no Reich dos povos de "sangue alemão" e os de "raiz alemã" (flamengos, holandeses e escandinavos), a sujeição e o deslocamento das populações eslavas que viviam no "espaço vital" no leste, a exterminação dos ciganos e dos judeus.
O regime fascista parece menos sanguinário, seu expansionismo mais moderado, mesmo que a conquista da Etiópia, em 1935, seguida da agressão contra a Grécia, em 1940, indiquem seu caráter bélico e suas tendências repressivas e exterminadoras.
Fenômeno radical, o nazismo continua a ser bem mais próximo do fascismo do que qualquer outro fenômeno político da época.
Antes da chegada ao poder são movimentos de massa, definindo-se pelo poder carismático de um chefe cujo discurso explora habilmente os temas tradicionais, ao mesmo tempo que visa um alinhamento totalitário da nação em torno dos valores da fé, da força e do combate, a conquista e a dominação formando o horizonte natural do povo regenerado.
O parentesco dos regimes não é menos marcante: a chegada ao governo em consequência de um apelo das elites conservadoras, preocupadas em estabilizar autoritariamente um regime democrático; a ampliação progressiva do poder às expensas dos aliados conservadores; a dinâmica plebiscitária da procura por êxitos no exterior, a expansão sendo não apenas um fim em si mas também o meio de acelerar a transformação interna, fortalecendo o domínio do partido e o controle totalitário sobre os corpos e espíritos.
A extensão desigual do poder exercido e o caráter desigualmente radical das políticas postas em ação remetem às condições de construção dos regimes.
Hitler encontrou menos obstáculos devido à ausência de uma monarquia, da morte do presidente Hindenburg em 1934, da fraqueza de um Exército reduzido, da divisão religiosa do país, do enfraquecimento do grande empresariado em função da crise econômica.
Eles remetem aos passados nacionais, às heranças e às tradições de cada país, especialmente à insignificância do anti-semitismo na Itália e à importância dos elementos de tipo étnico na definição da identidade alemã.
Remetem, ainda e por fim, aos meios de poder à disposição: o nazismo soube atrelar à realização de sua política as forças de um grande país; por si só, a Itália fascista não dispunha dos meios de abalar a ordem internacional.
Como movimento e como regime políticos, o nazismo é um fascismo, mas um fascismo articulado sobre o racismo.
Não se esquecerá, sem que isso diminua a distância nos resultados, que o racismo foi também dimensão do fascismo italiano.
Assim, este adotou, em 1938, sem a menor pressão alemã, uma legislação anti-semita de tipo nazista, depois de haver introduzido desde 1933 uma legislação racista no império italiano.

Tradução de Clara Allain

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