São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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Doença desconhecida mata menino em SP

CLÁUDIA LACERDA
DA FOLHA NORTE

O estudante Rafael Barbosa da Silva, 8, de Catanduva, morreu há uma semana no IMC (Instituto de Moléstias Cardiovasculares) de São José do Rio Preto, vítima de uma doença desconhecida.
Ele apresentava sintomas semelhantes à infecção bacteriana que já causou a morte de mais de 12 pessoas na Inglaterra, segundo os médicos e sua família.
A infecção é provocada pela bactéria estreptococo do grupo A. Normalmente, ela apenas causa irritação na garganta, mas pode sofrer uma mutação, grangrenar os músculos e matar em menos de 24 horas.
O garoto sofreu a mesma série de sintomas da doença que está causando pânico na Inglaterra: dor de garganta, dores nas pernas, manchas na pele, vômito, febre e, por fim, gangrena e insuficiência respiratória causada pela infecção.
O cirurgião vascular do Hospital São Domingos de Catanduva, Luís Ferreira de Carvalho Neto, 29, disse que a infecção que causou a morte de Rafael foi causada por um estreptococo.
Carvalho Neto foi o primeiro a atender o menino, no sábado retrasado. Ele sofria dos sintomas desde a sexta-feira. O médico não soube informar o grupo a que pertence a bactéria. Não foram realizados exames de sangue no estudante em Catanduva.
Segundo o médico, a infecção lesou os tecidos das artérias das pernas do garoto, causando uma trombose (coagulação do sangue) seguida de gangrenação (apodrecimento) dos tecidos.
O diretor-clínico do IMC, João Carlos Anacleto, negou que a doença de Rafael tenha sido causada pela bactéria estreptococo do tipo A. O IMC não quis revelar o laudo da necrópsia.
O pai do estudante, o policial Wanderley Barbosa da Silva, 48, disse que o garoto começou a ter dores de garganta e nas manchas nas pernas no dia 21.
"A morte de Rafael foi muito rápida. Os médicos informaram que não conseguiram descobrir a causa da doença", disse Silva.
Especulação
Anacleto, disse, através de sua assessoria de imprensa, que a morte do estudante não está relacionada com a bactéria estreptococo do tipo A. "É pura especulação."
O garoto foi levado ao IMC na segunda-feira à noite e, após avaliação clínica, foi internado na Beneficência Portuguesa (o IMC faz parte do complexo hospitalar da Beneficência).
Ele teria sido atendido pela médica Rita Sanches e o pediatra Airton Moscardini.
Os dois médicos foram procurados ontem à tarde no IMC, Beneficência Portuguesa e em seus consultórios, mas não foram localizados.
A médica Rita Sanches informou, através da assessoria, que ela fez uma rápida avaliação das artérias do menino.
A bactéria estreptococo do grupo A é presente de forma inofensiva em cerca de 10% da população.
Em alguns casos, ela pode sofrer mutação e se tornar devastadora para o organismo.
Segundo médicos, ela é frequente no Brasil, mas não há dados de casos graves que levaram os pacientes à morte.
A bactéria libera uma toxina capaz de dissolver gorduras e músculos a uma velocidade de 2,5 centímetros por hora.
O cirurgião vascular do Hospital São Domingos, Luís Ferreira de Carvalho Neto, disse que a infecção apresentada por Rafael é rara.

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