São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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Filme inglês de 84 mostra vida de Schindler

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos seres humanos terão passado tão rapidamente da modesta obscuridade à absoluta fama em tão pouco tempo quanto Oskar Schindler. O industrial e playboy alemão, nascido na atual República Tcheca, resolveu salvar 1.100 judeus da morte empregando-os em sua fábrica durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Virou personagem central de filme de Steven Spielberg. Virou mito.
O documentário dirigido pelo inglês Jon Blair não destrói o mito. Humaniza-o. Schindler era filiado ao Partido Nazista. Gostava de mulheres, bebida e belos carros. Gostava de dinheiro. Gostava de reconhecimento. Não era santo. E salvou vidas.
Blair traz vários dos sobreviventes, dos integrantes da "lista" de Schindler (ou de sua arca, como dizia o título original do livro que resultou no filme spielberguiano). Os "judeus de Schindler" não são condescendentes com seu salvador. Reconhecem suas falhas, algo que Spielberg não faz com tanta evidência. E reconhecem também com todas as letras que ele os salvou, num mundo em que ninguém o fazia. Ninguém. O que basta.
Vêem-se cenas das reuniões anuais que os sobreviventes faziam em honra a Schindler muitos anos depois do fim da guerra, já em Israel. Foi lá que ele foi enterrado, reconhecido como um homem justo. Blair conta toda a vida de seu personagem. Há cenas de Oskar andando na Alemanha do pós-guerra.
O documentário é muito cuidadoso. Mostra a fachada da fábrica de Schindler, que aparece idêntica no filme atual. Só que nas cenas do vídeo elas são reais. Não é um cenário: é o espaço onde viveram e se salvaram os operários de Schindler.
Blair inclui o depoimento da amante de Amon Goeth, o comandante nazista do campo onde os trabalhadores da fábrica ficavam. A mulher, que aparece retratada em algumas cenas de Spielberg, está para morrer, como explica a legenda, com um enfisema pulmonar. Falta-lhe ar. Ela tenta justificar o injustificável.
O documentário mostra também as licenças que Spielberg tomou ao fazer seu filme. O percurso dos "Schindlerjuden" até a salvação não foi tão rápido quanto está no filme atual, por exemplo.
E inclui uma informação não muito crível: a de que Schindler, que era reconhecidamente agente secreto alemão na Polônia antes da guerra, passou aos nazistas os uniformes poloneses que serviram aos soldados alemães para criar o pretexto para a guerra.

Título: Schindler
Direção: Jon Blair
Roteiro: Jon Blair
Música: Henry e Leo Rosner
Produção: Grã-Bretanha, 1984
Duração: 80 min.
Lançamento: Flashstar

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