São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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Bia Lessa monta 'Homem sem Qualidades'

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Espetáculo: O Homem sem Qualidades, a partir da obra de Robert Musil
Direção: Bia Lessa
Elenco: Ana Beatriz Nogueira, Betty Gofman, Daniel Dantas, Lucélia Santos, Silvia Buarque
Onde: Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, região central do Rio, tel. 021/216-0237)
Quando: estréia hoje, para convidados; a temporada normal começa amanhã, e vai até o dia 31 de julho; quartas, quintas e domingos, às 19h; sextas e sábados, às 21h
Quanto: CR$ 4.000

A diretora Bia Lessa, 36, apresenta hoje sua primeira leitura da obra-prima do austríaco Robert Musil, "O Homem sem Qualidades". A montagem de Bia tem 2h40, sem intervalos. Segundo ela, "uma das coisas que quero fazer é montar vários 'Homem sem Qualidades' ".
Bia, que deu uma entrevista à Folha por telefone na sexta passada, escolheu Daniel Dantas para interpretar o personagem central da história, Ulrich.
Uma parte do cenário é composta por arquibancadas, de onde parte do público poderá ver a peça usando binóculos e máquinas fotográficas, e ser visto pelo resto da platéia.

Folha - Por que Musil?
Bia Lessa - Li o livro há sete anos, emprestado por Hermano Vianna. Eu o chamara para outro trabalho, para um estudo sobre a trajetória do homem até 1900, antes de "Orlando". No meio, ele sugeriu que eu lesse Musil.
Aí ele me deu a tese dele sobre Musil. Li o livro, que me impressionou muito. Montei o "Orlando" por causa de Musil.
Eu estava interessada na evolução do pensamento, do conhecimento, da consciência, dos costumes, o que mudou no homem de 1500 a 1900. Daí reuni minha equipe, e começamos a transformar os dados em um espetáculo.
Uma das pessoas disse que tinha que ler "Orlando", da Virginia Woolf, que já era isso organizado. Enfim, quando comecei a ler "Orlando', na verdade eu já estava montando a peça.
E o que me interessava era o que mais tinha me encantado em Musil, que é o problema de pensar o movimento, das coisas que não são estáticas, da ausência de ideologias rígidas.
Folha - Como reduzir "O Homem...' e suas centenas de capítulos às dimensões de uma peça?
Bia - Eu não tenho a pretensão de neste espetáculo fazer o hoem sem qualidades como um todo. Seria um devaneio. Eu tinha muito claramente o que me interessava. O que não me interessava, abri mão. E tive de deixar de lado todas as informações históricas, se não ia virar uma loucura.
Folha - Qual é o ponto central desta tua peça?
Bia - O que me interessava era este homem em movimento. O que eu peguei, acho, foi esta idéia de ele, Ulrich, ser um homem genial e comum ao mesmo tempo. De alguém que é ao mesmo tempo protagonista e não é protagonista de nada. É um homem comum com genialidade, como todos nós.
Folha - Por isso você diz "a partir da obra"?
Bia - Justamente. Não há personagens que estão no livro. Uma das coisas que quero fazer, porque realmente este livro é um livro que me mobiliza profundamente, é montar outros "Homens sem Qualidades".
Folha - Este é um começo de um projeto?
Bia - Sem dúvida. O que eu acho genial no livro é que cada capítulo é um texto em si, completo.
Folha - Quanto tempo vocês ensaiaram a peça?
Bia - Estamos ensaiando há três meses. Mas eu tenho a sensação de estar fazendo isso há muito mais tempo.
Pra mim ele tem outro tamanho, outro lugar. Parece que estou mexendo com a matéria-prima de tudo o que eu já fiz.
Folha - Como é o cenário?
Bia - É uma geografia, não um cenário. Tenho a platéia clássica e coloquei uma arquibancada dentro do próprio palco.
Esta plátéia, composta pelos espectadores, que poderão escolher onde vão querer ficar, terá máquina fotográfica e binóculo. Ela é platéia e cenário.

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