São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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Fora dos trilhos

O grau de sucesso ou fracasso do plano de estabilização depende principalmente da credibilidade do governo na condução da política econômica. Mas essa confiança não será obtida apenas com palavras. Ela depende de atos concretos.
A substancial elevação de gastos contida na última versão do Orçamento já havia, por si só, deixado dúvidas quanto à determinação do governo em eliminar o déficit público. A constatação de que entre os aumentos estão US$ 18,2 milhões destinados à ferrovia Norte-Sul –que na versão anterior recebia somente US$ 132 mil– só fez aumentar a desconfiança sobre o discurso de austeridade.
Há, de um lado, flagrantes e seríssimas carências em vários serviços e obrigações do Estado e, de outro, repetem-se exemplos de gastos não prioritários ou até mesmo desnecessários. As obras públicas são uma área especialmente propícia à manipulação antiética de verbas, como demonstrou a CPI do Orçamento. Quanto maiores os gastos, melhor se acomodam os interesses dos diferentes grupos políticos e dos grupos econômicos envolvidos com a área pública.
Mesmo que o mérito da ferrovia Norte-Sul seja passível de discussão, causa estranheza o fato de não estarem previstas verbas para novas obras, mas apenas para manutenção, na versão de agosto do Orçamento. O dinheiro para as obras surgiu somente em maio, quando já se cogitava do possível apoio do ex-presidente José Sarney à candidatura governista, a do ex-ministro Fernando Henrique. O ex-presidente é um entusiasta do projeto.
A população não pode continuar a ser surpreendida por obras e gastos de nebulosa motivação e duvidosa pertinência. A austeridade, o planejamento e a transparência nas prioridades são imperativos de um bom governo. É uma constatação acaciana, mas, infelizmente, necessária no Brasil. Ontem como hoje.

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