São Paulo, quarta-feira, 1 de junho de 1994
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Quércia, passado e Brizola

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – As razões da fé quase cega que Orestes Quércia (PMDB) tem na sua vitória eleitoral parecem ancoradas mais no passado.
Uma das razões está na parede de seu escritório político e já é arquiconhecida: os gráficos com a evolução de suas candidaturas ao Senado, em 1974, e ao governo estadual, em 1986. Começou lá embaixo e ganhou.
A outra razão é menos usada. Diz Quércia que, desde a República Velha (antes de 1930), jamais o Brasil elegeu um presidente que não tivesse sido, antes, governador de Estado.
Com esse argumento, descarta, de saída, a hipótese de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chegue ao Planalto. Afinal, nem um nem outro foi governador.
A disputa em 1994 estaria, portanto, restrita ao próprio Quércia, mais Leonel Brizola (PDT) e Esperidião Amin (PPR), que governaram, respectivamente, São Paulo, Rio e Santa Catarina.
Será que basta esse precedente histórico para justificar a confiança no seu taco eleitoral?
Quércia jura que a sua "proposta" é que vai sensibilizar o eleitorado. E vai listando obras monumentais, como a interligação de hidrovias de tal forma que a região Norte acabará sendo navegável até o Pacífico. Beleza. Mas não perguntem a Quércia sobre os custos ou de onde sairá o dinheiro.
"Isso, nós ainda não temos levantado", responde, sempre que alguém pede detalhes mais ou menos essenciais de qualquer projeto.
Suspeito que Quércia confia, na verdade, em dois fatores menos cabalísticos. Um é o PMDB, a mais ampla de todas as máquinas partidárias. O problema é que essa mesma máquina foi incapaz, por exemplo, de levar Ulysses Guimarães além do sétimo lugar na eleição presidencial anterior.
O outro fator é uma aliança com Brizola. Quércia diz aceitá-la mesmo que implique a sua renúncia e não a de Brizola. Mas é óbvio que acredita que estará melhor do que o pedetista quando chegar a hora certa para se discutir esse eventual acordo. Aí, sim, conviria levar mais a sério o otimismo quercista.

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