São Paulo, quinta-feira, 2 de junho de 1994
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Vice-campeão da miséria

A divulgação de indicadores sociais por parte de entidades internacionais já se tornou, de há muito, causa de vergonha para o Brasil. Ainda assim, embora não se espere uma posição animadora do país face a seus pares, os dados recém-anunciados pela ONU são terrivelmente incisivos quanto à perversidade da situação social do país.
A organização elabora desde 1990 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que oferece um retrato das condições de vida mais acurado do que o fornecido por dados apenas econômicos como o PIB per capita. O indicador inclui também itens como expectativa de vida e grau de escolaridade.
O IDH médio dá ao Brasil um modesto 63º posto. Pode parecer razoável quando se recorda que são 173 os países listados, mas é constrangedor quando se lembra que o Brasil é uma das dez maiores economias e já teve pretensões a ser o melhor dentre os piores.
Muito mais graves, porém, são os dados sobre desigualdade entre ricos e pobres. Sem dúvida basta um passeio por qualquer cidade brasileira para constatar a péssima distribuição de renda que dilacera o país, mas dificilmente alguém imaginaria que essa disparidade seja tão incomum em todo o mundo.
De fato, segundo a ONU, só uma nação no planeta é mais desigual do que o Brasil na vida que oferece a ricos e pobres: Botsuana. Todas as outras distribuem sua riqueza, ou pobreza, de forma mais equitativa.
No âmbito interno, as desigualdades são igualmente marcantes. Isolado, o Nordeste teria o 111º IDH do mundo –lá se vive 17 anos menos que no Sudeste e Sul, os analfabetos são 30% mais numerosos e a renda, 40% menor.
O caminho para alterar essa dramática situação é decerto longo e complexo, mas o mais lamentável é que nos últimos tempos tem faltado ao Brasil a determinação sequer de dar o primeiro passo, tornando a distribuição de renda prioritária. É como se o país tivesse se acomodado com um vexatório vice-campeonato mundial da injustiça social.

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