São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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'Vou entrar pra arrebentar', diz Leonardo

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

Leonardo nem chegou a completar ainda 25 anos e já carrega a bagagem de um veterano viajado e vitorioso. Começou menino ainda no Flamengo, logo o Flamengo, a mais inflamada torcida do Brasil, o que logo lhe garantiu uma convocação para a seleção brasileira.
Mas foi na troca com Nelsinho, então lateral-esquerdo titular do time de Carlos Alberto Silva, que, no São Paulo, experimentou suas maiores conquistas.
Ali, foi campeão paulista, brasileiro, da Libertadores e mundial. Depois, Leonardo ficou três temporadas no Valencia, da Espanha, onde viveu o céu e o inferno. Encostado na reserva, aceitou voltar para o tricolor, por empréstimo, e, novamente no Morumbi, a ascensão.
Desta vez, foi jogando pelo meio-campo, no lugar que pertencera a Raí, vendido ao Paris Saint-German: "Foi a melhor de todas as experiências. Solto, lá na frente, me sinto à vontade. Gosto mesmo de jogar na meia", dizia Leonardo, em meio à balbúrdia que se estabeleceu no campo da Universidade de Santa Clara, logo após Parreira anunciar que Branco estaria fora dos treinamentos e que a lateral-esquerda seria sua.
Leonardo, 24 anos (faz 25 no dia 5 de setembro), 1, 77 m, 71 quilos, canhoto, veloz, dono de poderoso disparo, seja com a bola parada, seja rolando, drible fácil, rosto de menino bem nascido, sempre sorridente e atencioso, transmite um ar assim de quem é presa fácil de desatenção. Mas fluente, também em inglês e em espanhol, Leonardo passa mesmo é a idéia de um rapaz esperto, que venceria como corretor da Bolsa, piloto de F-1 ou o jovem empresário que chega sempre na frente.
A idéia de velocidade, pois, está sempre presente, nessa corrida pela conquista de um lugar entre os titulares da Copa. Onze vezes chamado para a seleção, Leonardo jogou apenas 675 minutos e não chegou a marcar nenhum gol.
Na verdade, soube com paciência esperar o momento de substituir Branco, apesar de todas as pesquisas de opinião pública elegerem-no o verdadeiro titular.
Pois Branco, o Leonardo dos anos 80, dono da posição em duas Copas (86 e 90), há tempos reduziu sua velocidade, foi diminuindo, diminuindo, até que, finalmente, às vésperas do primeiro amistoso da seleção na América do Norte, parou, com dores nas costas.

Folha - Esta é a chance?
Leonardo - É uma grande chance, sem dúvida. Pois um time que joga bem num amistoso sempre será mantido.
Folha - Mas eu pergunto se é a chance, aquela que aparece uma só vez, na hora certa? É pegar ou largar.
Leonardo - Ah, sim, essa é a grande chance pra mim. E vou pegá-la, pode acreditar. Estou louco pra jogar.
Folha - Pra arrebentar?
Leonardo - (num largo sorriso): Pra arrebentar. Vou arrebentar, mas jogando dentro do que o técnico determinar, claro.
Folha - O Parreira, ali na frente, está dizendo que você é mais ofensivo do que o Branco. Concorda?
Leonardo - Pode ser. Eu gosto muito de atacar, sinto facilidade em ir até a linha de fundo. Mas, como lateral, tenho de estar atento na marcação, na cobertura, tudo isso, enfim.
Folha - Mesmo sabendo que o time tem dois volantes e que um deles deve sempre ficar pronto para cobrir suas descidas?
Leonardo - Apesar disso, tenho também atribuições defensivas. Aliás, no futebol moderno, todos devem saber atacar e defender. Quanto mais um lateral!
Folha - Mas, no último coletivo, o Cafu fez dois gols em cima de você e por ali foram feitas as jogadas mais perigosas do ataque reserva (Leonardo, no primeiro coletivo, jogou entre os titulares – Branco foi poupado).
Leonardo - Ah, mas aquele treino não conta. Eu estava saindo de uma gripe forte. Além disso, os exercícios físicos do Moraci, neste estágio, deixam a gente com as pernas pesadas. Apesar de acostumado com esses exercícios no São Paulo, também senti esse peso. E tem mais: os reservas jogaram com quatro atacantes típicos. Isso não acontece num jogo normal. Ninguém, hoje em dia, joga com quatro atacantes.
Folha - Por quê?
Leonardo - Porque ninguém é louco de abrir seu meio-campo. Toma goleada na certa. Veja o resultado daquele treino: 6 a 2 para os titulares.
Folha - Quer dizer que você já pensa como meio-campista?
Leonardo - Lá no São Paulo, no Japão, pra onde vou, sim. Aqui, não. Aqui, sou um lateral, de corpo inteiro. Pra defender e atacar.

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