São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994 |
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Cunningham traz 'Ocean' a SP em agosto
JAIR RATTNER
Em Lisboa, apresenta até domingo duas coreografias: "Breakers" e "Enter", dentro da programação da Capital Européia da Cultura. Sua última inovação foi trazer o computador para a concepção coreográfica. Solista da companhia de Martha Graham –que lançou a "modern dance"– entre 1939 e 1945, optou por outro rumo. No lugar de uma dança expressiva e psicologicamente motivada, trabalha para obter o movimento puro, a dança abstrata. Em 1953, fundou sua companhia da dança. Entre os artistas com que trabalhou nos últimos 40 anos encontram-se Andy Warholl, Frank Stella, Robert Morris e John Cage. Para agosto, está prevista a sua segunda viagem ao Brasil, para participar do Festival de Música Nova. A coreografia que ele traz a São Paulo chama-se "Ocean". Antes, deverá ser apresentada na Bélgica e na Holanda. "Ocean" foi criada para apresentação no centro de um espaço circular, com o público envolvendo-o de todos os lados. O som viria de vários pontos, com 112 músicos espalhados e sem maestro. Folha – O senhor relaciona o computador com a dança. Como liga as duas coisas? Merce Cunningham – Há um software para a dança que foi desenvolvido na Universidade Simon Fraser, no Canadá, chamado "Life Forms" (Imagens de Vida). É um programa como outro qualquer. Dá para guardar isso na memória. Assim pode-se fazer frases de movimentos humanos. Eu começo o trabalho em uma nova coreografia assim. Experimento os movimentos no computador. Folha – E os dançarinos conseguem repetir esses movimentos? Cunningham – Sim, porque eu não espero que eles fiquem iguais ao do computador. Eles são dançarinos. É como em uma pauta de música, que cada músico toca do seu jeito. Folha – Para isso o senhor deve ter dançarinos especiais. Como o senhor os escolhe? Cunningham – Temos aulas de dança no nosso estúdio nos Estados Unidos. Dos alunos, formamos a companhia. Eles têm que ser muito fortes e muito flexíveis, não só no corpo, mas no espírito. Folha – O senhor trabalhou com um brasileiro, Emanuel Dimas de Melo Pimenta. Como começou a trabalhar com ele? Cunningham – John Cage esteve num festival de música em São Paulo há alguns anos e o Emanuel era um dos músicos. John ouviu a música dele e ficou interessado. Quando voltou aos Estados Unidos, eu estava trabalhando em uma nova coreografia. Ele sugeriu usar a música do Emanuel. Eu ouvi e gostei. Folha – Como o senhor trabalha com um músico. Pede para criar música especialmente para a coreografia? Cunningham – Nesse caso, a música do Emanuel já estava composta. Mas do jeito que eu trabalho, a coreografia é separada da música. Elas são unidas no momento da performance. Nas duas coreografias apresentadas em Lisboa, a dança foi composta separadamente da música. A dança não depende da música. Depende de si própria. O espectador é que as coloca juntas. Texto Anterior: Cabresto; Sugar candy; Sabiá Próximo Texto: Ensaio se faz sem música Índice |
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