São Paulo, sexta-feira, 3 de junho de 1994
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Fotógrafo sintetiza em livro o melhor da MPB

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Caetano Veloso e Gilberto Gil o apelidaram de Mário Astral. Amigo de boa parte das estrelas da música popular brasileira, aos 30 anos de carreira o fotógrafo paulista Mário Luiz Thompson prepara seu projeto mais ambicioso.
As 600 fotos mais representativas de seu acervo de 100 mil (entre negativos e slides) vão compor o livro "Bem Te Vi - Música Popular Brasileira", uma síntese fotográfica da MPB durante as últimas três décadas.
"A música popular brasileira é uma das mais expressivas do planeta e esse livro retrata o trabalho de todos que a fazem: os compositores, os letristas e os intérpretes", explica o autor.
Além das fotos, o livro vai incluir também dezenas de depoimentos de músicos do primeiro time da MPB. Entre outros, Milton Nascimento, Chico Buarque, Gil e Caetano vão comentar o trabalho de seus colegas.
Na verdade, o livro só não está pronto ainda pela falta de um patrocinador que banque os custos da edição e da primeira tiragem (com 3 mil exemplares), orçados em US$ 220 mil.
"Estamos indo à luta", diz Mário Luiz, que anos atrás até pensou em doar seu acervo a algum órgão público, mas desistiu da idéia.
"Autoridades nessa área me garantiram que o arquivo corre perigo se sair das minhas mãos. Nenhum órgão público está aparelhado para isso", diz. "Esse acervo pode se perder, se nenhum patrocinador se sensibilizar."
Desde 1990, através do Projeto Bem Te Vi, Mário Luiz vem tentando custear a conservação do acervo, organizando shows e exposições. Sensibilizados, os músicos têm contribuído, abrindo mão de seus cachês. "Hoje sou escravo desse acervo", diz.
Segundo o fotográfo, o projeto prevê dez novas exposições em vários Estados do país, até 95. A próxima deve acontecer em Salvador, com um possível show comandado por Gilberto Gil.
Também conhecido pelas 43 capas de discos que fez para Gil, Jorge Ben Jor, Gal Costa e Pat Metheny, entre outros, Mário Luiz terá suas fotos destacadas em número especial da revista francesa "Jazz Hot", em setembro.
Apesar da extensão de seu arquivo, Mário Luiz deixa claro que seleciona os músicos retratados. Nos anos 70, recusou-se a fotografar o cantor Wilson Simonal, por motivos idelológicos.
Ao contrário de seus colegas mais exibicionistas, Mário Luiz defende discrição e concentração absolutas, quando registra qualquer evento musical.
"Jamais uso flash e sempre procuro clicar no ritmo da música. A idéia é ser quase invisível."

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