São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
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Real trará a "desilusão monetária"

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O cientista político Sérgio Abranches acha que o programa de estabilização, a partir da entrada do real, será alvo de duas grandes controvérsias, a primeira inflação do real e a "desilusão monetária".
Em análise enviada aos assinantes do boletim Macrométrica Negócios, Abranches observa que haverá grande discrepância entre os diversos índices de inflação, na medida em que cada instituto utilizará método de cálculo diferente.
Sendo impossível, por motivos políticos e jurídicos, impor um determinado método a todos os institutos, Abranches entende que a equipe econômica deveria ao menos indicar o cálculo mais consistente com o programa.
O problema não é trivial. Conforme os diferentes métodos, a inflação de julho pode ir de 2% a 20%. Índices altos serão imediatamente instrumento para reivindicação de reposição salarial. E a reindexação seria a derrota do plano.
Também os exportadores logo estariam pedindo uma desvalorização do real em relação ao dólar, para compensar a suposta inflação em reais. Seria outro modo de começar a matar o plano.
A segunda controvérsia vai decorrer do que Sérgio Abranches chama de "desilusão monetária", o contrário da ilusão de riqueza que a inflação alta estimula nas pessoas que têm poupança financeira.
O real deverá ser introduzido quando a URV estiver valendo algo como CR$ 2.700. Assim, quem tiver uma poupança de CR$ 2,7 milhões vai encontrar no banco, em 1º de julho, escassos R$ 1.000.
E em 1º de agosto, a poupança que renderia CR$ 12,2 milhões, com uma inflação em torno de 45%, dará algo em torno de R$ 50. Ainda não se sabe qual será o primeiro rendimento da poupança em reais, mas pode-se estimar algo em torno de 5%.
Em termos de valor real, os 50 reais serão equivalentes aos CR$ 12,2 milhões. Mas "vai explicar isso para a dona de casa de Olaria", comenta Abranches, referindo-se ao bairro popular do Rio.
As duas controvérsias exigirão do governo um enorme esforço de comunicação. Coisa em que a equipe econômica tem falhado sistematicamente.

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