São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Preconceito motiva emigrição aos EUA

AMAURY RIBEIRO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Preconceito motiva emigração aos EUA
O preconceito contra os homossexuais no Brasil levou o cabeleireiro paranaense Rubens Amaral, 35, a deixar a cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, para tentar a sorte em Boston, nos EUA.
Proprietário de um salão de beleza, Rubinho, como é chamado pelos brasileiros, se tornou um dos principais líderes da comunidade gay dos EUA.
A exemplo de outros brasileiros gays que moram nos EUA, ele diz ter uma vida econômica estável. "Viajo constantemente", afirmou.
Na quarta-feira, ele falou à Agência Folha sobre a passeata gay e a vida dos brasileiros homossexuais nos EUA.
Agência Folha - Há quanto tempo você está nos EUA e quando você assumiu que era gay?
Rubens Amaral – Vivo aqui há 12 anos e desde que me entendo por gente soube que era gay. A sociedade brasileira, no entanto, é hipócrita e recrimina o gay a ponto de colocá-lo como uma marginal. Na TV, os personagens gays são sempre estereotipados, com atitudes afeminadas.
Agência Folha – Foi por isso que você resolveu sair do país?
Amaral - Sim. O preconceito fazia com que eu não assumisse no Brasil minha vida gay. Quando cheguei aqui descobri que existiam milhões de homossexuais bem-sucedidos e respeitados. Aí resolvi assumir minha identidade sexual.
Agência Folha - Por que existem tantos gays brasileiros nos Estados Unidos?
Amaral - Muitos já eram gays no Brasil e só assumiram aqui, porque as leis protegem os gays nos EUA. Em algumas cidades de Massachusetts, o casamento entre pessoas de um mesmo sexo já é permitido.
Agência Folha - A Aids mudou o comportamento dos gays nos EUA?
Amaral - A maior parte dos gays prefere hoje uma relação monógama. Se apaixonam, fazem o teste da Aids e se casam. Eu fiquei casado quase dez anos. Fora disso, todo mundo usa a camisinha.
Agência Folha - Como se relacionam os gays com a comunidade brasileira?
Amaral - No começo, como são pessoas simples, os brasileiros ainda mantêm aqueles preconceitos. Mas depois, vêem que os gays são pessoas normais e os preconceitos se acabam.
Agência Folha - Os gays brasileiros preferem se casar com brasileiros ou com americanos?
Amaral - Num primeiro momento, se relacionam mais com americanos, pela ilusão do homem bem-sucedido. Depois, percebem que trabalhando duro podem ganhar dinheiro também e, devido às diferenças culturais, acabam se relacionando com os brasileiros. (ARJr)

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