São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Ruas e calçadas obstruem circulação de deficientes

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem é cego ou anda em cadeira de rodas, as ruas e calçadas da cidade são uma grande armadilha. Os equipamentos públicos não foram pensados para eles.
Pelo menos no papel, há boas notícias. O novo Código de Obras e Edificações que está parado na Câmara exige banheiros adaptados e facilidades de acesso em escolas, hospitais e outros locais públicos.
Também está sendo votada uma revisão da norma 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sobre as adequações nas edificações e mobiliário urbano.
Bancos, caixas eletrônicos, supermercados e shoppings terão de se adaptar. A ABNT não tem força de lei, mas suas normas são referência em todo o país.
A nova norma especifica, por exemplo, que as calçadas tenham uma faixa livre de 1,20 m com cor e textura diferenciadas e que o piso seja liso e antiderrapante.
Pelos passeios da cidade, transitam 200 mil pessoas em cadeiras de rodas e cerca de 100 mil cegos.
Quem deve construir a calçada é o dono do imóvel, mas a fiscalização cabe à prefeitura. "Isto não vem acontecendo", diz Adriana de Almeida Prado, arquiteta da Fundação Prefeito Faria Lima.
Adriana participa do grupo de estudo que revisa a norma 9050 da ABNT. Empurrada pela filha numa cadeira de rodas, ela percorreu vários shopping centers da cidade. Constatou que mesmo os mais novos não estão completamente adaptados para o deficiente físico.
Maria do Socorro da Silva, cega e revisora de braile, toma três ônibus para ir de sua casa à Fundação Dorina Nowill, onde trabalha. "Atravessar a rua é um grande perigo", diz. "Nas calçadas, tenho que desviar de entulhos, sacos de lixo, buracos e carros."
A arquiteta do Centro de Vida Independente (CVI), Silvana Serafino Cambiagh, lembra que o linha Norte-Sul do metrô, inaugurada nos anos 70, não reservou espaços para rampas e elevadores.
As estações da Leste-Oeste, mais novas, estão sendo adaptadas. Hoje, um funcionário ajuda o deficiente a chegar até o vagão.
Como Silvana, o deficiente que tiver de tomar ônibus, tem de ser carregado. Num futuro ainda incerto, os ônibus urbanos deverão sair da fábrica com uma plataforma acoplada à escada.
"A idéia não é projetar equipamentos e espaços só para deficientes, mas construí-los de forma que dêem acesso a todas as pessoas", diz Silvana.
Por enquanto, nem a legislação que existe é cumprida. Uma lei de 1992 determina que bares, restaurantes, cinemas e outros locais que reúnam mais de cem pessoas tenham rampa de acesso e sanitários adaptados.
Algumas coisas estão mudando. Em Santos, por exemplo, a prefeitura está construindo rampas que vão ligar o calçadão ao mar.
"Vou poder molhar os pés", diz a santista Flávia Cintra Campillo, 21, que há três anos ficou tetraplégica num acidente de automóvel.(Aureliano Biancarelli)
Em São Paulo, o CVI presta informações pelo tel. (011) 298-4686. A Fundação Dorina Nowill Para Cegos atende pelo tel. (011) 549-0611.

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