São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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O jogo de esconde-esconde da transição

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

A inflação do dia 30 de junho será de 1,87% para uma URV cheia no mês de 47,5% estimada pelo departamento de economia da "Agência Dinheiro Vivo". Mas os bancos fazem de conta que os preços do dia 30 subirão percentual idêntico ao de 1º de julho, o primeiro dia do real.
Os bancos escondem do investidor que todas as aplicações indexadas ao CDI-over que transitarem pelo dia 30 de junho –CDB-TR, caderneta de poupança, fundos DI, fundos de commodities DI, fundos carteira livre– mostrarão ganhos reais acanhados.
Como o BC ainda não revogou a lei segundo a qual o cheque vira dinheiro no dia seguinte, o CDI efetivo do dia 30 será o over do dia 1º de julho. Ou seja, o CDI despencará de 2% no dia 29 para algo entre 0,33% e 0,43% no dia 30, supondo-se uma taxa-over entre 10% e 13% em julho.
Essa baixa radical teria de ser compensada por um aumento proporcional no juro real. Os bancos se recusam a fazer tal compensação.
O Banco Central abriu o over em junho com taxa de 56,50%, estimativa de rentabilidade de 47,97% e juro real de 2,76% sobre a URV, cuja projeção foi mantida em 44%.
Nessas hipóteses, o CDI-over pagará 45,23% nos primeiros 20 dias úteis do mês mais 0,33% no vigésimo primeiro. Total: 45,71%. Juro real: 1,19%. Ou seja, o juro real do CDI-over tombará de 2,85% em maio para 1,19% em junho.
Como o CDI-over do dia 30 de junho ficará 1,56% abaixo da inflação do dia, as aplicações atreladas a ele só irão valer a pena se o juro real de julho compensar a perda desse dia. Na hipótese de 5% de juro real no mês que vem, esse 1,56% só será recuperado em sete dias de aplicação em julho.
Mas o juro real pode ser menor. Na sexta-feira, grandes e bem-informados, bancos iniciaram revisão para baixo da expectativa de um juro real de 5% em julho. As apostas, agora, são de que o juro real do over-selic subirá muito pouco com a mudança do padrão monetário. Dos atuais 2,76% para 3%.
Como o governo não obteve as reformas estruturais capazes de sustentar o ajuste fiscal conseguido via FSE, não quer comprometê-lo através de rombos na conta dos juros. E não adianta pagar um megajuro em julho porque está se chegando à conclusão de que, inevitavelmente, a primeira inflação do real não será tão baixa como se previa.
A inflação zero, se obtida, só o seria em agosto. A taxa de julho, em real –sem o resíduo da inflação velha que deve elevar o IPC/Fipe do mês que vem para 25,11%, segundo projeção da "Agência Dinheiro Vivo"– deve rondar a faixa entre 5% e 7%. Admitindo-se 5% de inflação nova e juro real de 3%, o over de julho teria de pagar 8,15% efetivos ou taxa de 11,21%.

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