São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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País precisa conhecer o Brasil de Glauber

VITOR ANGELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Glauber Rocha (1939-1981) teria algum significado hoje? Sempre envolvido em grandes polêmicas, o cineasta baiano, mesmo depois de morto ainda é objeto de ataques. Ainda se discute hoje, a validade estética de seus filmes e ainda se pergunta: Glauber era um gênio ou um mistificador?
Nada mais salutar do que uma presença tão controvertida quanto a de Glauber em nosso cenário cultural. A superficialidade de Gilberto Braga e o yuppismo de Gerald Thomas que o digam.
O cineasta italiano Michelangelo Antonioni via em "Idade da Terra" (1980) um filme para ser compreendido apenas depois do ano 2000. Paulo Emílio Salles Gomes, crítico de cinema, chamava Glauber de "Profeta alado". E é impossível não enxergá-lo assim.
Vendo a análise "didática" e anárquica das relações entre as forças políticas brasileiras no discutido "Terra em Transe" (1967) percebemos o quanto Glauber aponta para o futuro.
Outras questões presentes na obra do cineasta parecem voltar ao centro das discussões depois de anos de cultura internacionalista.
A história de Glauber confunde-se com a problemática da identidade nacional e a colonização cultural. Em relação a isso "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) é o seu filme de aposta em uma imagem tipicamente brasileira.
E em "História do Brazyl" (1972-74) temos o olhar livre do cineasta sobre a nossa história. O interesse das novas gerações pela cultura brasileira (música, artes plásticas) e pela história recente do país faz da obra de Glauber um ponto de consulta e reflexão.
Glauber é o típico caso em que todos conhecem o nome, mas poucos viram a sua obra. A oportunidade surgiu com a mostra "Glauber: Um Leão ao Meio Dia".
Apesar de contar com um panorama dos filmes do cineasta e uma exposição de desenhos inéditos, o MIS (Museu da Imagem e do Som) poderia ter tido mais sensibilidade e ampliado a mostra com palestras, debates e mostra paralela de filmes que dialogassem com Glauber (de Staub a Rogério Sganzerla).
Perdeu-se a chance de ter um debate amplo e vivo deste "leão de todas as horas" como D. Lúcia Rocha referiu-se ao seu filho na abertura do evento. Glauber merecia e merecerá sempre mais. Nele encontramos poesia, crítica e paixão pelo cinema e pelo Brasil.

Mostra: Glauber: Um Leão ao Meio Dia
Onde: MIS (av. Europa, 158, Jardins, tel. 011/852-9197)
Quando: exposição de desenhos até 26 de junho, das 14 às 22h; exibição de filmes até hoje, às 16h, 19h e 21h
Entrada: gratuita

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