São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Caetano avalia o reencontro em Londres

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Para Caetano Veloso, o show que reuniu ele, Gil, Gal e Bethânia em Londres na quarta-feira passada fortaleceu a relação dos quatro.
Caetano, cujo dia dificilmente começa antes das 16h, teve uma agenda cheia na cidade onde morou exilado no final dos anos 60.
Na sexta-feira, ele pretendia ir a Tate Gallery com o filho Moreno. Como Moreno saiu antes do pai, sobrou tempo para falar com a Folha.

Folha -Como foi o reencontro de vocês aqui?
Caetano Veloso - A hora que nós nos juntamos mesmo foi depois da apresentação da Mangueira. Quando voltamos ao palco íamos tocar "O Seu Amor". Gil pegou a guitarra e começou a tocar "Esotérico". A Bethânia disse que ia embora.
A Gal começou a cantar "Esotérico" e aquilo foi saindo bonito, sem estar organizado e aí a Bethânia olhou para mim e eu fui para junto dela porque ela estava se sentindo desamparada.
Quando Gal viu que eu estava abraçado com a Bethânia, ela veio e ficou junto. Quando o Gil viu, veio também. Quando ele foi chegando, foi a hora de cantar "mistério sempre há de pintar por aí". Nós quatro dissemos agarradinhos.
Realmente aquilo para nós era misterioso. Aquilo foi mágico.
Folha - O fato de ser Londres teve alguma influência especial?
Caetano - Terminou sendo importante. No começo não tinha pensado isso. Mas, uma vez aqui, Bethânia e Gal lembraram que elas não tinham voltado a Londres desde que tinham vindo nos visitar quando estávamos exilados.
Isso deu uma carga emocional desde antes do show com a qual não estávamos nem contando.
Folha - Vocês têm planos de nova reunião dos quatro?
Caetano - Não. Conversamos muito sobre o que se passou aqui. A Bethânia chamou os outros três no camarim dela e ficou falando muito emocionada com o significado daquele momento, quando nós ficamos meio desamparadamente sozinhos no palco, como aquilo revelou uma coisa forte na ligação da gente.
A Gal falou a palavra destino. Um destino de nossa união, que fica acima dos distanciamentos.
Folha - A Bethânia pareceu mais resguardada. É normal?
Caetano - Ela sempre foi mais resguardada. Quando nós fomos parceiros do movimento tropicalista, Gil, Gal e eu, a Bethânia fez questão de individualizar-se e não querer o nome dela ligado a nenhum movimento coletivo.
Ela deixou bem claro já naquela altura, embora tivesse dado dicas importantes para o movimento. No LP "Tropicália", a canção "Baby" foi composta para Bethânia e a pedido de Bethânia. Mas ela não quis gravar para não participar de um projeto coletivo.

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