São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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Rolla expõe sua enciclopédia da fantasia

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Exposição: Pinturas de Marco Paulo Rolla
Onde: Casa Triângulo (r. Bento Freitas, 33, região central)
Quando: abertura hoje, às 21h; até 29 de junho; de segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados, das 11h às 15h

Marco Paulo Rolla estará mostrando a partir de hoje suas novas pinturas na Casa Triângulo. Representante precoce da novíssima geração, o mineiro Marco Paulo, 27, hoje vivendo em São Paulo, mostra a evolução de seu trabalho nesta sétima individual.
Usando o título de uma coleção, poderíamos chamar seu trabalho de "pequena enciclopédia da fantasia". São figuras que nascem em uma corrente de imaginação e se aninham em espaços espiralados, cheios de voltas, de onde saem os personagens mais absurdos. Justapostos como em uma colagem, eles quebram qualquer expectativa linear quanto a uma narrativa.
Rainhas malvadas, princesas ou noivas se juntam a figuras modernas, telefones e bolos. Tramam todos os graus do desejo –sexual, fantasias infantis, paladar, olfato– num paraíso sensorial subitamente cortado por uma navalhada no pescoço (várias personagens apresentam um corte sanguinolento nessa parte do corpo).
Esses desejos subterrâneos, tão antigos quanto a infância, misturam histórias de fadas e perversidades misteriosas. A fantasia consoladora é temperada com flashes cruéis de realidade. No espaço convulsivo dessas telas juntam-se igualmente vários tempos, como a soma de muitas ações inacabadas, passadas e presentes. Parecido com "Alice no País das Maravilhas", Rolla cria um tempo e um espaço onde tudo pode acontecer, e onde a representação é explicita, teatral.
Despida de pólos visuais ou narrativos, cada pintura propõe uma sintaxe impossível entre suas várias figuras, todas com a mesma importância. Sem hierarquia, o olho não tem um trajeto linear, movimento. Esse tempo recorrente do olhar e também o espiralado do espaço remetem ao universo de dúvida do maneirismo, acrescido do automatismo surrealista.
Nesse território narcíseo de fragmentos, Rolla une fantasia e ceticismo, o mesmo que persegue a desconfiança da arte atual quanto a suas possibilidades. A única certeza parece ser a da marcação externa de tempo; as datas aparecem nos quadros em grandes números destacados, como num diário.
Cética quanto a inovação no seu estatuto visual, esta pintura não lida com a inquietação pictórica propriamente dita, mas é um puro jogo de imagens, estereótipos culturais. Dentro desse universo, o trabalho de Rolla vem afiando sua fatura e seus lapsos narrativos.

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