São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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Bom-dia tristeza

ZECA CAMARGO

Então você está a fim de entrar nessa onda neo-existencialista... Sua vida anda meio sem sentido... Pouca perspectiva e pouca vontade de fazer alguma coisa... Tudo bem, já existe um refrigerante feito sob medida para você.
Vem aí OK, o novo produto da Coca-Cola, que já está sendo testado nos EUA (com planos para o lançamento mundial até o final do ano que vem), acompanhado de uma das maiores sacanagens do marketing moderno.
As coisas vão ficar OK. Não é simples?
Em uma das quatro versões da lata do novo refrigerante está escrito: "Não se engane achando que tem que existir uma razão para tudo". Para uma geração que (segundo a Coca e as pesquisas sobre o comportamento jovem) está perdida, a frase é uma armadilha: acreditar nela e "comprar" a campanha ou rejeitá-la e também fazer o que a frase está dizendo?
Não tem por onde escapar. Na linha direta gratuita do OK, jovens americanos ouvem impasses e angústias do seu cotidiano ou deixam gravado seu desabafo quanto à manipulação da campanha. Até falam mal do refrigerante. Tudo bem: essa mesma gravação "negativa" vira parte da campanha, num processo interminável de auto-referência subversiva.
Tudo bem, tudo bem. Suas preocupações mais legítimas estão cercadas e as respostas para elas são meros slogans publicitários que só vão reforçar as próprias preocupações.
Nem suas dúvidas normais você pode ter mais. A Coca-Cola já resolveu isso. Você está perdido. E tudo vai ficar OK.

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