São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994 |
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Joe Goode satiriza a idiotização da sociedade atual
ANA FRANCISCA PONZIO
Para o público brasileiro, mais acostumado ao formalismo abstrato que distingue a dança moderna americana (especialmente a produzida em Nova York), Joe Goode é uma real novidade. Sediado com seu grupo de cinco bailarinos em San Francisco, Goode admite que a localização geográfica na Costa Oeste dos Estados Unidos diferencia as preocupações estéticas dos artistas. "Nova York está mais ligada à tradição européia. Nós, no extremo oposto do território americano, estamos mais voltados para a Ásia. Somos mais influenciados por expressões como o butô e o kabuki e isso nos torna diferentes", disse Goode em entrevista à Folha, no final de abril. Intimamente ligada ao teatro, a dança de Joe Goode é uma original e bem-sucedida simbiose entre movimento e fala. Suas coreografias são uma sucessão de vinhetas sobre a condição humana em uma sociedade muitas vezes absurda. Uma das maiores qualidades de Goode é saber rir de si mesmo e, por consequência, conduzir o público a uma postura semelhante. Cultivar o bom humor, apesar da iminência dos terremotos, parece ser um estilo de vida dos habitantes de San Francisco e um pouco desse aparente paradoxo está contido nas peças de Goode. Mestre da ironia, Goode trabalha muito especialmente com o texto que, em suas coreografias, nascem e se desenvolvem junto com os movimentos. Exemplo perfeito é "Doris Day num Redemoinho de Poeira", uma das peças da "Disaster Series" incluída no programa que está sendo apresentado em São Paulo. Protagonizada por um casal (o rapaz é o próprio Goode), "Doris Day..." é uma refinada (e muito engraçada) alegoria às ilusões perdidas. Do ritmo à concepção cenográfica, essa vinheta também comprova o caráter performático dos espetáculos de Goode, que sabe utilizar com extrema propriedade essa expressão tipicamente americana. Ponto alto do espetáculo são os extratos de "Convenience Boy", que satiriza a dependência dos artigos de consumo. Mesmo salientando a idiotização da sociedade contemporânea, Goode é compassivo com seus personagens, que exalam certa poesia em meio uma existência surreal. Espetáculo: Joe Goode Performance Group Quando: hoje e amanhã, às 21h Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153; tel. 011/288-0136, Bela Vista, região central) Preços: de CR$ 6.000,00 a CR$ 30 mil Texto Anterior: Como pegar um sabão molhado Próximo Texto: Cada um tem seu caminho até Deus Índice |
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