São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Obra reúne textos de modernistas no poder

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 09/06/94

O nome do organizador do livro "Modernistas na Repartição" é Lauro Cavalcanti, e não Cardoso, como está neste artigo. Obra reúne textos de modernistas no poder
"Modernistas na Repartição" é um conjunto de ensaios, organizado por Lauro Cardoso, onde é discutido um dos aspectos da idéia de modernidade no Brasil. A contradição de alguns modernistas, ao mesmo tempo funcionários de um governo autoritário, ao mesmo tempo criadores de um conceito novo de país, através da definição do "passado" a preservar, aparece aqui.
Cardoso, em um prefácio que apresenta os onze textos, escritos por Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco, entre outros, conta um pouco a história do momento.
Estávamos no Brasil de 1936. O governo de Getúlio Vargas, após sua vitória sobre as esquerdas em 1935, começava uma guinada que marcaria a história do país nos próximos anos.
No campo da cultura, como lembra Cardoso, o momento decisivo parece ter sido a escolha de um projeto "modernista" para o edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio.
O arquiteto que assinava a obra, Lúcio Costa, e que mais tarde seria um dos idealizadores de Brasília, recebera forte influência de Le Corbusier.
O projeto de Costa, muito avançado para os padrões construtivos da época, derrotou outro projeto, em estilo "marajoara", que também concorrera.
A escolha arquitetônica sinalizava a escolha política. A modernidade –em sua forma "brasileira"– definiria os rumos da cultura nacional. A definição do que fosse esta "modernidade" foi a tarefa de um conjunto de funcionários, escolhidos a dedo pelo então ministro, Gustavo Capanema.
Que Capanema tivesse deixado de lado Gustavo Barroso, principal oponente dos modernos na discussão sobre cultura nacional, é sintomático. Barroso, um integralista de primeira hora, era um museólogo, e defendia a preservação dos "valores nacionais" e dos símbolos da glória pátria.
Capanema fez uma opção oposta. Escolheu Mário de Andrade, diretor do departamento Cultural de São Paulo, para pensar um projeto para a preservação do patrimônio histório do país.
Barroso defendia o passado. Capanema escolheu os modernos. A escolha refletia as opções feitas por Getúlio? Difícil saber. No ano seguinte os integralistas cairiam em desgraça e nasceria o Estado Novo getulista.
Capanema convidou Mário. Outro modernista, da segunda leva, o poeta –e funcionário– mineiro Carlos Drummond de Andrade, era seu chefe de gabinete.
Rodrigo Mello (ou Melo) Franco de Andrade foi convidado para dirigir o novo órgão, o Sphan, criado a partir do projeto de Mário. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional escolheria quais os bens do passado que deveriam ser preservados. Ao fazê-lo, marcaria alguns dos parâmetros para a cultura nacional.
O volume inclui o ensaio de Mário sobre a capela de Santo Antonio e seu anteprojeto do Patrimônio. O livro termina com um texto de Antonio Cândido, "Patrimônio Interior", lembrando seu contato com o Sphan, com Rodrigo Mello Franco e Mário, em São Paulo (acompanhado por Vinicius de Moraes).

Título: Modernistas na Repartição
Autores: Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco, Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Carlos Drummond de Andrade, Lúcio Costa, Antonio Cândido
Organizador: Lauro Cavalcanti
Páginas: 226
Preço: 12,79 URVs

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